Duas características são fundamentais para que uma pessoa seja reconhecida como sábia: pensar antes de agir e se preocupar com os outros.
Freepik
Todos nós admiramos pessoas sábias, não é mesmo? Seja um professor atencioso, um médico compassivo ou um ancião na comunidade, reconhecemos a sabedoria quando a vemos.
Mas você já pensou sobre como as pessoas em diferentes culturas percebem a sabedoria? Alguém no Marrocos vê uma pessoa sábia da mesma forma que alguém no Equador? Nosso estudo recente explorou como as pessoas de diferentes culturas pensam sobre a sabedoria.
Este projeto de grande escala exigiu um esforço conjunto de 34 pesquisadores em áreas de filosofia, psicologia, antropologia, ciências sociais e psicometria — e de todo o mundo, conectados em um consórcio de pesquisa chamado The Geography of Philosophy.
O que descobrimos foi um tanto surpreendente.
A sabedoria pode parecer moldada por diferenças culturais, mas os aspectos centrais do que torna alguém sábio são em grande parte os mesmos em todas as culturas.
De estudantes universitários urbanos no Japão a moradores de vilarejos na África do Sul, os participantes associaram a sabedoria a duas características principais: orientação reflexiva e consciência socioemocional. Explicamos o que isso significa abaixo.
Ao contrário dos estereótipos generalizados, as pessoas reconhecem a sabedoria de forma semelhante no leste e oeste, sul e norte.
Apesar das divisões do mundo, vemos sabedoria nos mesmos indivíduos e a associamos a características semelhantes.
Somos realmente mais parecidos do que diferentes, quando se trata de como percebemos a sabedoria? E o que caracteriza as pessoas sábias?
Características das pessoas sábias
Existem duas características principais.
A orientação reflexiva se trata da capacidade de pessoas pensarem antes de agir, considerando cuidadosamente diferentes perspectivas e usando a lógica e experiências passadas para orientar suas decisões. Elas são o tipo de pessoa que mantém a calma em situações difíceis, reservando um tempo para pesar todas as opções antes de fazer um movimento.
A segunda é a consciência socioemocional. Pessoas sábias são boas em entender e se importar com os pensamentos e sentimentos dos outros. Elas prestam atenção às emoções e consideram diferentes visões sobre a situação. Esse indivíduo pode ser hábil em mediar conflitos ao entender o ponto de vista de cada parte, ou ser adepto de fornecer suporte emocional em momentos difíceis.
Juntas, essas duas dimensões se combinam para formar a imagem global da sabedoria. O estudo sugere que as pessoas mais sábias são aquelas que equilibram ambos, mostrando fortes habilidades de raciocínio e também sendo emocionalmente e socialmente conscientes.
Uma pessoa altamente reflexiva que está diexando de lado suas próprias emoções, mas não percebe o contexto social do problema, não seria chamada de sábia.
Da mesma forma, alguém que é totalmente movido pela emoção e pelo ambiente social, mas não consegue fazer conexões lógicas, também não seria chamado de sábio.
A verdadeira sabedoria, de acordo com nosso estudo, é encontrar um equilíbrio entre raciocínio ponderado, compreensão social e consciência emocional.
As culturas diferem, mas não tanto
Para descobrir essas dimensões, empregamos um método às vezes chamado de filosofia experimental.
Participantes de 16 culturas diferentes em 12 países em cinco continentes compararam um conjunto de alvos entre si.
Por exemplo, uma das perguntas pedia aos participantes para comparar se um médico ou uma pessoa religiosa tinha mais probabilidade de pensar logicamente ao tomar uma decisão difícil na vida sem respostas certas ou erradas.
Nossos participantes também se auto classificaram. Então perguntamos o quão sábia cada uma dessas pessoas era.
Quando começamos este projeto, esperávamos encontrar grandes diferenças entre as culturas. Pesquisas anteriores sugeriram que as pessoas no “ocidente” usam e valorizam o pensamento analítico, que tende a descartar partes sociais e emocionais da situação. Em contraste, indivíduos no “oriente” enfatizam o pensamento holístico, ou seja, visões abrangentes de situações complexas.
Mas não foi isso que descobrimos. Embora houvesse algumas pequenas diferenças — pessoas na África do Sul, por exemplo, davam mais importância à natureza e à divindade ao pensar sobre consciência socioemocional — o quadro geral era surpreendentemente semelhante.
Em todo o mundo, as pessoas classificaram indivíduos que eram reflexivos e social e emocionalmente conscientes como os mais sábios.
Por exemplo, eles nomearam um médico e uma pessoa de 75 anos como os mais sábios e, ao mesmo tempo, os mais altos em ambas as dimensões.
O que foi particularmente fascinante foi que as pessoas tendiam a se classificar de forma diferente de como classificavam os outros.
A maioria das pessoas se via como menos reflexiva, mas mais social e emocionalmente consciente do que as figuras “sábias” que eram solicitadas a classificar.
Em outras palavras, as pessoas estavam prontas para admitir um nível moderado de suas próprias capacidades intelectuais, mas estavam bastante confiantes em sua capacidade de entender e cuidar dos outros.
Por que isso importa
Esta pesquisa desafia os estereótipos de um ideal analítico frio do “ocidente” e uma imagem socialmente orientada e emocionalmente motivada do “oriente” e “sul”.
A ideia de que a sabedoria é puramente intelectual, puramente social ou divina é muito simplista.
Também destaca que a sabedoria se manifesta em um equilíbrio de características tradicionalmente atribuídas a diferentes culturas.
Em uma época em que a cooperação global é mais importante do que nunca, reconhecer nossa apreciação compartilhada por certas qualidades pode ajudar a superar as divisões culturais.
O estudo abre novos caminhos para a pesquisa. Essas dimensões da sabedoria podem nos ajudar a entender como resolver problemas globais? As pessoas são mais propensas a confiar em líderes que demonstram pensamento reflexivo e consciência socioemocional? E como essas qualidades afetam a maneira como lidamos com relacionamentos pessoais, decisões difíceis ou conflitos?
Uma coisa é clara: a sabedoria é algo que todos nós valorizamos, não importa de onde viemos. Ao entendê-la melhor, podemos não apenas nos tornar mais sábios, mas também aprender a apreciar a sabedoria nos outros, onde quer que estejam.
*Maksim Rudnev é pesquisador associado do Departamento de Psicologia da Universidade de Waterloo.
*Veli Mitova é professor de Filosofia e Diretor do Centro Africano de Epistemologia e Filosofia da Ciência da Universidade de Joanesburgo.
**Este texto foi publicado originalmente no site do The Conversation.
Sabedoria dos raizeiros ajuda a ciência a descobrir novos medicamentos
Freepik
Todos nós admiramos pessoas sábias, não é mesmo? Seja um professor atencioso, um médico compassivo ou um ancião na comunidade, reconhecemos a sabedoria quando a vemos.
Mas você já pensou sobre como as pessoas em diferentes culturas percebem a sabedoria? Alguém no Marrocos vê uma pessoa sábia da mesma forma que alguém no Equador? Nosso estudo recente explorou como as pessoas de diferentes culturas pensam sobre a sabedoria.
Este projeto de grande escala exigiu um esforço conjunto de 34 pesquisadores em áreas de filosofia, psicologia, antropologia, ciências sociais e psicometria — e de todo o mundo, conectados em um consórcio de pesquisa chamado The Geography of Philosophy.
O que descobrimos foi um tanto surpreendente.
A sabedoria pode parecer moldada por diferenças culturais, mas os aspectos centrais do que torna alguém sábio são em grande parte os mesmos em todas as culturas.
De estudantes universitários urbanos no Japão a moradores de vilarejos na África do Sul, os participantes associaram a sabedoria a duas características principais: orientação reflexiva e consciência socioemocional. Explicamos o que isso significa abaixo.
Ao contrário dos estereótipos generalizados, as pessoas reconhecem a sabedoria de forma semelhante no leste e oeste, sul e norte.
Apesar das divisões do mundo, vemos sabedoria nos mesmos indivíduos e a associamos a características semelhantes.
Somos realmente mais parecidos do que diferentes, quando se trata de como percebemos a sabedoria? E o que caracteriza as pessoas sábias?
Características das pessoas sábias
Existem duas características principais.
A orientação reflexiva se trata da capacidade de pessoas pensarem antes de agir, considerando cuidadosamente diferentes perspectivas e usando a lógica e experiências passadas para orientar suas decisões. Elas são o tipo de pessoa que mantém a calma em situações difíceis, reservando um tempo para pesar todas as opções antes de fazer um movimento.
A segunda é a consciência socioemocional. Pessoas sábias são boas em entender e se importar com os pensamentos e sentimentos dos outros. Elas prestam atenção às emoções e consideram diferentes visões sobre a situação. Esse indivíduo pode ser hábil em mediar conflitos ao entender o ponto de vista de cada parte, ou ser adepto de fornecer suporte emocional em momentos difíceis.
Juntas, essas duas dimensões se combinam para formar a imagem global da sabedoria. O estudo sugere que as pessoas mais sábias são aquelas que equilibram ambos, mostrando fortes habilidades de raciocínio e também sendo emocionalmente e socialmente conscientes.
Uma pessoa altamente reflexiva que está diexando de lado suas próprias emoções, mas não percebe o contexto social do problema, não seria chamada de sábia.
Da mesma forma, alguém que é totalmente movido pela emoção e pelo ambiente social, mas não consegue fazer conexões lógicas, também não seria chamado de sábio.
A verdadeira sabedoria, de acordo com nosso estudo, é encontrar um equilíbrio entre raciocínio ponderado, compreensão social e consciência emocional.
As culturas diferem, mas não tanto
Para descobrir essas dimensões, empregamos um método às vezes chamado de filosofia experimental.
Participantes de 16 culturas diferentes em 12 países em cinco continentes compararam um conjunto de alvos entre si.
Por exemplo, uma das perguntas pedia aos participantes para comparar se um médico ou uma pessoa religiosa tinha mais probabilidade de pensar logicamente ao tomar uma decisão difícil na vida sem respostas certas ou erradas.
Nossos participantes também se auto classificaram. Então perguntamos o quão sábia cada uma dessas pessoas era.
Quando começamos este projeto, esperávamos encontrar grandes diferenças entre as culturas. Pesquisas anteriores sugeriram que as pessoas no “ocidente” usam e valorizam o pensamento analítico, que tende a descartar partes sociais e emocionais da situação. Em contraste, indivíduos no “oriente” enfatizam o pensamento holístico, ou seja, visões abrangentes de situações complexas.
Mas não foi isso que descobrimos. Embora houvesse algumas pequenas diferenças — pessoas na África do Sul, por exemplo, davam mais importância à natureza e à divindade ao pensar sobre consciência socioemocional — o quadro geral era surpreendentemente semelhante.
Em todo o mundo, as pessoas classificaram indivíduos que eram reflexivos e social e emocionalmente conscientes como os mais sábios.
Por exemplo, eles nomearam um médico e uma pessoa de 75 anos como os mais sábios e, ao mesmo tempo, os mais altos em ambas as dimensões.
O que foi particularmente fascinante foi que as pessoas tendiam a se classificar de forma diferente de como classificavam os outros.
A maioria das pessoas se via como menos reflexiva, mas mais social e emocionalmente consciente do que as figuras “sábias” que eram solicitadas a classificar.
Em outras palavras, as pessoas estavam prontas para admitir um nível moderado de suas próprias capacidades intelectuais, mas estavam bastante confiantes em sua capacidade de entender e cuidar dos outros.
Por que isso importa
Esta pesquisa desafia os estereótipos de um ideal analítico frio do “ocidente” e uma imagem socialmente orientada e emocionalmente motivada do “oriente” e “sul”.
A ideia de que a sabedoria é puramente intelectual, puramente social ou divina é muito simplista.
Também destaca que a sabedoria se manifesta em um equilíbrio de características tradicionalmente atribuídas a diferentes culturas.
Em uma época em que a cooperação global é mais importante do que nunca, reconhecer nossa apreciação compartilhada por certas qualidades pode ajudar a superar as divisões culturais.
O estudo abre novos caminhos para a pesquisa. Essas dimensões da sabedoria podem nos ajudar a entender como resolver problemas globais? As pessoas são mais propensas a confiar em líderes que demonstram pensamento reflexivo e consciência socioemocional? E como essas qualidades afetam a maneira como lidamos com relacionamentos pessoais, decisões difíceis ou conflitos?
Uma coisa é clara: a sabedoria é algo que todos nós valorizamos, não importa de onde viemos. Ao entendê-la melhor, podemos não apenas nos tornar mais sábios, mas também aprender a apreciar a sabedoria nos outros, onde quer que estejam.
*Maksim Rudnev é pesquisador associado do Departamento de Psicologia da Universidade de Waterloo.
*Veli Mitova é professor de Filosofia e Diretor do Centro Africano de Epistemologia e Filosofia da Ciência da Universidade de Joanesburgo.
**Este texto foi publicado originalmente no site do The Conversation.
Sabedoria dos raizeiros ajuda a ciência a descobrir novos medicamentos
Ir para postagem original ”CLIQUE AQUI”
Postado em: 03:00