A avaliação dos parlamentares é que, em uma corrida que pode ser apertada, o partido do presidente Lula se torna um “fiel da balança”: quem levar o apoio dos petistas sai em vantagem na disputa.
Até agora, os principais candidatos são: Hugo Motta (Republicanos), Antonio Brito (PSD) e Elmar Nascimento (União Brasil), todos parlamentares de partidos que fazem parte da Esplanada dos Ministérios.
A eleição para a presidência da Câmara será em fevereiro do próximo ano. Além do principal cargo da Casa, outras dez cadeiras estão em disputa: duas vice-presidências e quatro secretarias (com quatro vagas titulares e quatro suplentes). São esses cargos que começam a ser negociados.
PSD se torna o partido com o maior número de prefeituras do país
A proposta de Hugo Motta
De um lado, o deputado Hugo Motta (Republicanos), nome apoiado por Lira para a presidência da Câmara, já ofereceu ao PT o cargo da primeira secretaria – uma espécie de “prefeitura” da Câmara, responsável pelo gerenciamento das despesas da Casa e por aprovar obras e reformas, por exemplo.
Motta se reuniu nesta terça-feira (8) com a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do partido, e com o atual líder da sigla, Odair Cunha(MG) , para apresentar a proposta.
O cargo é melhor que o atualmente preenchido pelo PT na Mesa, de segunda secretaria – que trata de assuntos relacionados a passaportes diplomáticos dos parlamentares. Hoje, a cadeira é ocupada pela deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Contudo, a primeira secretaria é, em tese, um cargo menor do que o da primeira vice-presidência – primeiro cargo a substituir o presidente e que elabora pareceres sobre projetos de resolução. Essa função já está prometida ao PL, segundo deputados da legenda.
“Esse é nosso acordo com o Lira para apoiar o candidato dele”, diz o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), atualmente segundo vice-presidente da Câmara.
Partido da oposição, o PL é a maior bancada da Câmara, com 99 deputados. O argumento de aliados de Motta é que dificilmente o PT conseguirá uma composição para tirar a primeira vice-presidência do PL.
Segundo parlamentares do grupo de Motta, a intenção é atrair apoio tanto do PL quanto do PT para levar o deputado à vitória.
A proposta do PSD e do União Brasil
Por outro lado, o grupo de Antônio Brito (PSD) e Elmar Nascimento (União Brasil) tenta atrair o apoio da federação do PT com a proposta da primeira vice-presidência. “Ou de qualquer cargo que o PT queira”, diz um aliado.
Elmar contava com o apoio de Lira para sucedê-lo e se sentiu traído com a indicação de Hugo Motta. Com isso, decidiu formar um acordo com Brito: ambos devem seguir suas candidaturas para forçar um segundo turno de votação. Se isso acontecer, eles pretendem se juntar para derrotar Motta.
Segundo parlamentares ligados a Elmar e Brito, a proposta para que o PT assuma a primeira vice-presidência é mais vantajosa tanto para tirar o PL do cargo quanto para ter maior controle das sessões do Congresso. Isso porque quem assume a primeira vice-presidência da Câmara se torna, automaticamente, o vice-presidente do Congresso Nacional.
Além disso, aliados têm dito ao governo que, se um dos dois ganhar, Lula finalmente terá “a base de apoio que sempre sonhou” na Câmara e que sempre esteve “sob ameaça” na gestão Lira.
Cálculo para as escolhas
A costura, contudo, não depende apenas dos candidatos. A escolha para os cargos na Mesa depende de um cálculo que considera tanto o tamanho dos blocos quanto dos partidos – uma espécie de quociente calculado pela Secretaria-Geral da Mesa após a formação destes grupos, que também só acontece em fevereiro, horas antes da eleição.
O maior bloco pode fazer os primeiros pedidos para integrar a Mesa Diretora. E, dentro de um bloco, o maior partido tem preferência.
Por isso, não basta que um ou outro grupo faça promessas ao PT: tanto Motta quanto Elmar e Brito precisam ter condições de garantir essa promessa ao partido. Ou seja, cada grupo precisa garantir o maior bloco, com partidos que elegeram mais deputados.
“O cálculo é literalmente matemático”, diz um deputado que participa das negociações.
Por exemplo, o grupo de Motta deve ter, em seu bloco, Republicanos, PP e PL – garantindo, de largada, um grupo de 186 deputados. Mas eles acreditam que podem ultrapassar o número de 300 parlamentares.
Já o bloco de Brito e Elmar conta, pelo menos, com União Brasil e PSD, mas aposta em outros apoios, como do PDT, do PSB e das federações PSOL/Rede e PSDB/Cidadania. Aliados prometem chegar a quase 260.
Nessa disputa matemática, o apoio do MDB – com 42 deputados – também fará diferença. Como o líder, Isnaldo Bulhões, é amigo próximo de Motta, a tendência é seguir com o deputado. Mas a bancada ainda não está decidida e aliados de Brito acreditam em reverter esse apoio.
A decisão do PT
Aliados dos três candidatos acreditam que o PT só deve bater o martelo sobre quem apoiar mais para frente – tanto para não contaminar a pauta na Câmara quanto para manter o poder de negociação. Mas alguns petistas dizem que “a decisão pode não demorar tanto assim”.
Dentro da bancada do PT, parlamentares afirmam que o partido faz cálculos e estuda as possibilidades, mas quer “a garantia” do que será oferecido.
Reservadamente, um deputado do PT admite que a primeira vice-presidência (promessa do PSD e do União) é “uma pedida relevante”, mas que “é preciso ter certeza daquilo que se oferece para dar” – sugerindo que o grupo de Brito e Elmar pode não ter tanto apoio quanto diz.
“Fazendo as contas, estão oferecendo o que não têm para entregar”, diz. “Gato escaldado tem medo de água fria.”
Questionado se haveria receio da bancada do PT por Hugo Motta ser próximo do senador Ciro Nogueira, que fez parte do governo de Jair Bolsonaro, e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, outro parlamentar petista afirma que “esse não deve ser o elemento a definir o apoio ou não do PT”.
“Por trás do Elmar há Antonio Rueda [presidente do União Brasil] e ACM Neto. Por trás de Brito, há [Gilberto] Kassab [presidente do PSD], que disse o que disse à Globonews”, afirmou o petista, em referência à declaração de Kassab em entrevista a Andréia Sadi de que “seu projeto” é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
“A alternativa seria lançar um nome 100% nosso, do PT, mas sabemos que não temos correlação de forças para isso”, finalizou.
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Postado em: 03:03