Roy Cohn, advogado das figuras mais poderosas do país – de magnatas a mafiosos -, foi o primeiro a dizer que Trump um dia ganharia outras partes dos Estados Unidos. Perfil de Donald Trump, candidato Republicano à presidência dos Estados Unidos
Antes de embarcar na viagem de motorhome pelos estados decisivos na eleição americana, que a gente tem acompanhado no Jornal Nacional, o correspondente Felipe Santana preparou um perfil do candidato republicano, Donald Trump. E, nessa história, um advogado cercado de controvérsia tem papel fundamental.
Não foi da noite para o dia. A criação do personagem Donald Trump começou há 51 anos. Em um lugar que não existe mais, ficava dentro de um prédio. Era mais ou menos assim: um restaurante mas onde só entravam sócios. Onde os ricos iam fazer festa e contatos. Donald Trump tinha 27 anos. Foi até a mesa de um homem que era naquele momento uma celebridade nos Estados Unidos. O advogado das figuras mais poderosas do país – de magnatas a mafiosos – e que puxava os fios para pedir favores e passar por cima da lei. Ele se chamava Roy Cohn.
“Roy Cohn era um bandido descarado”, afirma Michael Rosenberg.
Michael Rosenberg conheceu Roy Cohn mais de perto do que gostaria. Os pais dele eram Julius e Ethel Rosenberg. Eles estavam sendo processados quando Michael ainda era criança sob a alegação de que tinham passado para a União Soviética o segredo da bomba atômica. A principal testemunha, irmão de Ethel, assumiu, anos depois, que mentiu no depoimento e que não tinha certeza se ela estava envolvida na rede de espionagem. Mas virou um caso midiático, símbolo da luta americana contra o comunismo.
“Por quatro décadas, Roy Cohn controlou a mídia, o entretenimento e a política neste país de muitas maneiras. Ele ajudava os clientes dele a fazer coisas boas, mas, principalmente, coisas más”, afirma.
A equipe de Roy Cohn conseguiu a condenação. Os pais de Michael foram executados na cadeira elétrica. Roy se tornou um advogado famoso pela agressividade. O jornalista Ken Auletta, na época, acompanhou vários processos de Roy.
“Roy Cohn era um lagarto, uma figura reptiliana. Ele gostava de dizer que mataria a pessoa, figurativamente, que era seu adversário no tribunal, fosse sua esposa, marido ou parceiro nos negócios. Ele era cruel”, diz Ken Auletta.
Donald Trump e Roy Cohn
Jornal Nacional/ Reprodução
Foi isso que atraiu o jovem Donald Trump, que não nasceu fazendo parte desse mundo dos ricos e famosos. Cresceu em uma casa no Queens, afastado do centro da cidade. Ele dava trabalho quando criança e, por isso, o pai resolveu mandá-lo para o colégio militar interno no interior do estado.
De lá, foi para a faculdade. Quando voltou para Nova York, começou a trabalhar com o pai, que construía prédios de apartamentos populares usando dinheiro do governo. Mas Trump não queria fazer moradias populares. Com dinheiro do pai, começou a própria empresa.
O prédio espelhado foi a primeira obra de Donald Trump em Manhattan. Era antes um hotel abandonado, caindo aos pedaços. Os donos queriam fazer uma reforma. Donald Trump queria muito fazer a obra e o pai dele tinha bons contatos: conhecia o prefeito, que ajudou a colocar Donald Trump na frente dos outros candidatos.
Na hora de apresentar a papelada, Trump forjou um acordo que não existia: disse para a imprensa que tinha fechado uma parceria com a empresa do hotel, mas ele não tinha dinheiro nem para começar a obra. Uma vez dita, a mentira virou verdade, e a empresa fechou a parceria com Trump. Foi assim que ele começou a se colocar no mundo dos ricos em Manhattan.
Kamala Harris pode se tornar a primeira mulher eleita presidente dos EUA; veja perfil
O próximo passo era fazer parte dos clubes privados, onde se faziam os contatos e se resolviam os problemas. E Donald Trump, nessa nova vida de empresário, tinha um problema dos grandes nas mãos. Do tipo que só o advogado mais cruel de Nova York seria capaz de resolver.
Em uma noite, naquele mesmo clube, Donald Trump foi até a mesa de Roy Cohn, como conta o primo de Roy.
“O pai de Trump tinha um condomínio e eles não alugavam apartamentos para negros. Eles estavam sendo processados por isso, porque a discriminação é ilegal”, conta.
Os advogados de Donald Trump tinham sugerido que ele pagasse uma multa e abafasse o caso. Mas não foi o conselho de Roy Cohn naquele restaurante. Ele disse que Trump não deveria aceitar a acusação. Deveria, sim, processar o Estado e pedir US$ 100 milhões por difamação.
“Trump disse: ‘Você é um gênio!’. E assim começou uma amizade, um relacionamento. Trump virou cliente de Roy Cohn. Mas acima de tudo, Roy se tornou mentor. Um guia para o jovem Donald Trump”, diz.
Donald Trump e o pai
Jornal Nacional/ Reprodução
E quais foram os ensinamentos de Roy Cohn a Donald Trump?
“Roy ensinou Trump que há três regras quando você está na esfera pública. A primeira é: ataque, ataque, ataque. A segunda é: negue tudo. E a terceira é: aconteça o que acontecer, nunca reconheça a derrota”, afirma.
“Roy Cohn ensinou a Trump tudo o que ele sabia sobre como se portar no mundo. E Roy Cohn era um mentiroso descarado. A beleza de ser um mentiroso descarado é que você não sente vergonha nenhuma, você só mente e sai impune”, diz Michael Rosenberg.
As regras do mentor foram usadas por toda a vida. Em Atlantic City, Trump construiu um cassino e foi à falência. Sumiu, não pagou os funcionários e nunca admitiu o fracasso.
Donald Trump se tornou conhecido das massas quando teve um programa de TV próprio. Mesmo o seu bordão era um ataque: “Você está demitido”.
Donald Trump, candidato do Partido Republicano à Casa Branca
Jornal Nacional/ Reprodução
Roy Cohn foi o primeiro a dizer que aquele jovem um dia ganharia outras partes do país, e usou sua influência para apresentar Trump a gente importante. Conseguiu uma grande editora para publicar o livro sobre a arte dos negócios, que lançou Trump no mercado editorial.
“Trump não escreveu aquele livro. Eu nem acredito que Trump tenha algum dia lido aquele livro. Mas foi o que o colocou no palco nacional”, afirma.
Colocou Donald Trump nos microfones e começou a cavar uma vaga para Trump como negociador de armas atômicas. Nessa época, a homossexualidade era ilegal, e Roy Cohn trabalhava para perseguir e abrir processos contra gays.
“As pessoas que o conheciam sabiam que ele era gay, mas ele manteve isso em segredo e se colocou contra os direitos dos gays”, conta Rosenberg.
Donald Trump, candidato do Partido Republicano à Casa Branca
Jornal Nacional/ Reprodução
Para o primo dele, Trump via Roy Cohn como um pai, e Cohn via Trump como uma figura a ser moldada e algo mais. Quando Trump anunciou que ia se casar com a modelo Ivana, a relação entre mentor e discípulo começou a azedar. Roy morreu sozinho em 1986, vítima da Aids, doença que até o fim ele negou ter.
“No final, Trump simplesmente abandonou Roy Cohn quando descobriu sobre a Aids. Roy Cohn ficou muito decepcionado com isso”, conta Ken.
Roy não viu sua profecia se concretizar. Apesar de ter anunciado pré-candidatura várias vezes, Trump só concorreu de fato no ano 2000, pelo Partido Republicano. E, depois, em 2016, se tornou presidente.
Atacando, negando sempre tudo e nunca assumindo a derrota. Mesmo quando as urnas mostraram que ele não se reelegeu.
A personalidade de Trump inspirou milhões. Ele se apresenta como um homem capaz de qualquer coisa para fazer a América grande de novo. Uma personalidade forjada por Roy Cohn, de um homem que sempre consegue o que quer.
LEIA TAMBÉM
Economia, imigração e aborto: como 3 temas-chave das eleições nos EUA favorecem ou prejudicam Trump e Kamala
Lá não tem TSE: agência de notícias faz a contagem dos votos e anuncia vencedor das eleições americanas
Como seriam os EUA sem imigrantes?
Superstição e indecisão: o pequeno condado dos EUA que acertou as últimas 7 eleições presidenciais
Antes de embarcar na viagem de motorhome pelos estados decisivos na eleição americana, que a gente tem acompanhado no Jornal Nacional, o correspondente Felipe Santana preparou um perfil do candidato republicano, Donald Trump. E, nessa história, um advogado cercado de controvérsia tem papel fundamental.
Não foi da noite para o dia. A criação do personagem Donald Trump começou há 51 anos. Em um lugar que não existe mais, ficava dentro de um prédio. Era mais ou menos assim: um restaurante mas onde só entravam sócios. Onde os ricos iam fazer festa e contatos. Donald Trump tinha 27 anos. Foi até a mesa de um homem que era naquele momento uma celebridade nos Estados Unidos. O advogado das figuras mais poderosas do país – de magnatas a mafiosos – e que puxava os fios para pedir favores e passar por cima da lei. Ele se chamava Roy Cohn.
“Roy Cohn era um bandido descarado”, afirma Michael Rosenberg.
Michael Rosenberg conheceu Roy Cohn mais de perto do que gostaria. Os pais dele eram Julius e Ethel Rosenberg. Eles estavam sendo processados quando Michael ainda era criança sob a alegação de que tinham passado para a União Soviética o segredo da bomba atômica. A principal testemunha, irmão de Ethel, assumiu, anos depois, que mentiu no depoimento e que não tinha certeza se ela estava envolvida na rede de espionagem. Mas virou um caso midiático, símbolo da luta americana contra o comunismo.
“Por quatro décadas, Roy Cohn controlou a mídia, o entretenimento e a política neste país de muitas maneiras. Ele ajudava os clientes dele a fazer coisas boas, mas, principalmente, coisas más”, afirma.
A equipe de Roy Cohn conseguiu a condenação. Os pais de Michael foram executados na cadeira elétrica. Roy se tornou um advogado famoso pela agressividade. O jornalista Ken Auletta, na época, acompanhou vários processos de Roy.
“Roy Cohn era um lagarto, uma figura reptiliana. Ele gostava de dizer que mataria a pessoa, figurativamente, que era seu adversário no tribunal, fosse sua esposa, marido ou parceiro nos negócios. Ele era cruel”, diz Ken Auletta.
Donald Trump e Roy Cohn
Jornal Nacional/ Reprodução
Foi isso que atraiu o jovem Donald Trump, que não nasceu fazendo parte desse mundo dos ricos e famosos. Cresceu em uma casa no Queens, afastado do centro da cidade. Ele dava trabalho quando criança e, por isso, o pai resolveu mandá-lo para o colégio militar interno no interior do estado.
De lá, foi para a faculdade. Quando voltou para Nova York, começou a trabalhar com o pai, que construía prédios de apartamentos populares usando dinheiro do governo. Mas Trump não queria fazer moradias populares. Com dinheiro do pai, começou a própria empresa.
O prédio espelhado foi a primeira obra de Donald Trump em Manhattan. Era antes um hotel abandonado, caindo aos pedaços. Os donos queriam fazer uma reforma. Donald Trump queria muito fazer a obra e o pai dele tinha bons contatos: conhecia o prefeito, que ajudou a colocar Donald Trump na frente dos outros candidatos.
Na hora de apresentar a papelada, Trump forjou um acordo que não existia: disse para a imprensa que tinha fechado uma parceria com a empresa do hotel, mas ele não tinha dinheiro nem para começar a obra. Uma vez dita, a mentira virou verdade, e a empresa fechou a parceria com Trump. Foi assim que ele começou a se colocar no mundo dos ricos em Manhattan.
Kamala Harris pode se tornar a primeira mulher eleita presidente dos EUA; veja perfil
O próximo passo era fazer parte dos clubes privados, onde se faziam os contatos e se resolviam os problemas. E Donald Trump, nessa nova vida de empresário, tinha um problema dos grandes nas mãos. Do tipo que só o advogado mais cruel de Nova York seria capaz de resolver.
Em uma noite, naquele mesmo clube, Donald Trump foi até a mesa de Roy Cohn, como conta o primo de Roy.
“O pai de Trump tinha um condomínio e eles não alugavam apartamentos para negros. Eles estavam sendo processados por isso, porque a discriminação é ilegal”, conta.
Os advogados de Donald Trump tinham sugerido que ele pagasse uma multa e abafasse o caso. Mas não foi o conselho de Roy Cohn naquele restaurante. Ele disse que Trump não deveria aceitar a acusação. Deveria, sim, processar o Estado e pedir US$ 100 milhões por difamação.
“Trump disse: ‘Você é um gênio!’. E assim começou uma amizade, um relacionamento. Trump virou cliente de Roy Cohn. Mas acima de tudo, Roy se tornou mentor. Um guia para o jovem Donald Trump”, diz.
Donald Trump e o pai
Jornal Nacional/ Reprodução
E quais foram os ensinamentos de Roy Cohn a Donald Trump?
“Roy ensinou Trump que há três regras quando você está na esfera pública. A primeira é: ataque, ataque, ataque. A segunda é: negue tudo. E a terceira é: aconteça o que acontecer, nunca reconheça a derrota”, afirma.
“Roy Cohn ensinou a Trump tudo o que ele sabia sobre como se portar no mundo. E Roy Cohn era um mentiroso descarado. A beleza de ser um mentiroso descarado é que você não sente vergonha nenhuma, você só mente e sai impune”, diz Michael Rosenberg.
As regras do mentor foram usadas por toda a vida. Em Atlantic City, Trump construiu um cassino e foi à falência. Sumiu, não pagou os funcionários e nunca admitiu o fracasso.
Donald Trump se tornou conhecido das massas quando teve um programa de TV próprio. Mesmo o seu bordão era um ataque: “Você está demitido”.
Donald Trump, candidato do Partido Republicano à Casa Branca
Jornal Nacional/ Reprodução
Roy Cohn foi o primeiro a dizer que aquele jovem um dia ganharia outras partes do país, e usou sua influência para apresentar Trump a gente importante. Conseguiu uma grande editora para publicar o livro sobre a arte dos negócios, que lançou Trump no mercado editorial.
“Trump não escreveu aquele livro. Eu nem acredito que Trump tenha algum dia lido aquele livro. Mas foi o que o colocou no palco nacional”, afirma.
Colocou Donald Trump nos microfones e começou a cavar uma vaga para Trump como negociador de armas atômicas. Nessa época, a homossexualidade era ilegal, e Roy Cohn trabalhava para perseguir e abrir processos contra gays.
“As pessoas que o conheciam sabiam que ele era gay, mas ele manteve isso em segredo e se colocou contra os direitos dos gays”, conta Rosenberg.
Donald Trump, candidato do Partido Republicano à Casa Branca
Jornal Nacional/ Reprodução
Para o primo dele, Trump via Roy Cohn como um pai, e Cohn via Trump como uma figura a ser moldada e algo mais. Quando Trump anunciou que ia se casar com a modelo Ivana, a relação entre mentor e discípulo começou a azedar. Roy morreu sozinho em 1986, vítima da Aids, doença que até o fim ele negou ter.
“No final, Trump simplesmente abandonou Roy Cohn quando descobriu sobre a Aids. Roy Cohn ficou muito decepcionado com isso”, conta Ken.
Roy não viu sua profecia se concretizar. Apesar de ter anunciado pré-candidatura várias vezes, Trump só concorreu de fato no ano 2000, pelo Partido Republicano. E, depois, em 2016, se tornou presidente.
Atacando, negando sempre tudo e nunca assumindo a derrota. Mesmo quando as urnas mostraram que ele não se reelegeu.
A personalidade de Trump inspirou milhões. Ele se apresenta como um homem capaz de qualquer coisa para fazer a América grande de novo. Uma personalidade forjada por Roy Cohn, de um homem que sempre consegue o que quer.
LEIA TAMBÉM
Economia, imigração e aborto: como 3 temas-chave das eleições nos EUA favorecem ou prejudicam Trump e Kamala
Lá não tem TSE: agência de notícias faz a contagem dos votos e anuncia vencedor das eleições americanas
Como seriam os EUA sem imigrantes?
Superstição e indecisão: o pequeno condado dos EUA que acertou as últimas 7 eleições presidenciais
Ir para postagem original ”CLIQUE AQUI”
Postado em: 22:01