A Polícia Federal (PF) apontava indícios do papel do general da reserva do Exército Walter Braga Netto na coordenação da tentativa de golpe desde o início das investigações.
As primeiras apurações apontavam para o envolvimento do militar na articulação política para tentativa de golpe, inclusive, com planos e confecções de documentos.
Braga Netto também coordenou militares golpistas, incentivou ataques por meio das milícias digitais e com as últimas revelações, também foi apontado como financiador ao ter entregado uma sacola com dinheiro a um “kid preto”.
O ex-ministro e vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022, foi preso neste sábado (14) suspeito de tentar obter dados da delegação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Na decisão que determinou a prisão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, argumentou que os desdobramentos da investigação revelaram “verdadeiro papel de liderança, organização e financiamento” de Braga Netto nos planos golpistas.
A liderança do general no planejamento de um golpe de Estado surgiu já na operação Tempo da Verdade, deflagrada em fevereiro de 2024.
Na época, investigadores relataram à CNN que o ex-ministro atuava nas frentes “política, militar e de milícia digital” para o golpe.
As perícias iniciais nos materiais apreendidos revelaram um documento com mensagem encaminhada do celular do ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, para o então ministro da Casa Civil, no início de novembro de 2022.
A mensagem, segundo a PF na época, seria uma minuta “aparentemente assinada por representante de partido político”. Contudo, foi encaminhada com o título “bolsonaro min defesa 06.11-semifinal.docx” para Braga Netto.
Um trecho do texto diz que “novos dados sobrevieram pondo em discussão a higidez do elo entre a manifestação do eleitor e o voto apurado na urna eletrônica”.
Os depoimentos dos comandantes dos ex-comandantes da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, e do Exército, Marco Antonio Freire Gomes também comprometeram Braga Netto.
Baptista Junior, em depoimento prestado à PF, disse que viu com “preocupação” a presença de Braga Netto ao lado de Bolsonaro durante o discurso no Palácio da Alvorada. O ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) disse aos investigadores que, na ocasião, entendeu “que eles iriam continuar a tentar uma ruptura institucional”.
Ao longo das apurações, os investigadores também conseguiram destrinchar a reunião na casa do general em novembro de 2022.
O encontro foi confirmado por Cid. De acordo com a PF, nesse encontro foi discutido o plano “Punhal Verde e Amarelo” que tinha como objetivo a prisão do ministro Alexandre de Moraes e os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice Geraldo Alckmin (PSB).
A reunião ficou explicitada após a deflagração da Operação Contragolpe em novembro deste ano. A PF cumpriu mandados de prisão contra militares que participaram do plano.
Na época, a PF avaliava que não havia elementos para a prisão do ex-ministro.
Entretanto, novos depoimentos de Cid ao STF e à PF, além de documentos apreendidos com o assessor de Braga Netto, coronel Peregrino, desencadearam o pedido de prisão.
Na própria decisão, Moraes aponta que à PF, Cid disse em novembro que após a soltura, Braga Netto tentou saber o que ele tinha falado aos investigadores.
Na audiência no STF, também no mesmo mês, o ex-ajudante de ordens contou sobre a entrega de dinheiro para realização de operação golpista.
De acordo com integrantes da PF, o cumprimento do mandado de prisão foi “tranquilo”. O general está preso no Comando da 1ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro (RJ).
A CNN procurou a defesa de Walter Braga Netto e até o fechamento desta reportagem, não houve resposta.