Internacional
Sanções, STF sem visto e Internacional de Direita: o que bolsonaristas esperam de uma vitória de Trump
Getty Images via BBC
O retorno do republicano Donald Trump ao salão oval da Casa Branca — de onde tradicionalmente despacham os presidentes americanos — poderá ter efeitos políticos de ordens práticas e filosóficas a quase sete mil quilômetros de Washington, a capital dos Estados Unidos.
Ao menos é o que acreditam expoentes da direita bolsonarista radicados atualmente no país, como o ex-comentarista da Jovem Pan, Paulo Figueiredo, e o ex-chanceler de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo. Ambos conversaram com a BBC News Brasil poucos dias antes das eleições americanas, agendadas para 5/11, e indefinidas entre Trump e sua adversária, a democrata e atual vice-presidente Kamala Harris, segundo as pesquisas de intenção de votos.
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Em diferentes graus, Araújo e Figueiredo estão convencidos de que, no poder, Trump exerceria pressão — direta ou indiretamente — no Brasil de modo a colocar em evidência o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente inelegível até o fim de 2030, alterar o modo como o país combate fake news em mídias sociais, especialmente à luz do caso do bloqueio pelo Supremo Tribunal Federal do X (ex-Twitter) e impulsionar um retorno do foco do bolsonarismo a uma agenda mais programática de direita radical, com a chance de retomar e aprofundar intercâmbios com outros grupos políticos da mesma vertente internacionalmente, impulsionados pela força política e econômica do trumpismo instalado na Casa Branca.
A avaliação, no entanto, não é exclusividade de simpatizantes do ex-presidente Bolsonaro. “Se o Trump vencer, (…) muda (o cenário doméstico brasileiro). Se o Trump perder, desinfla muito o (líder argentino Javier) Milei, a extrema direita mundial. Se ele ganha, sempre dá um incentivo (ao bolsonarismo)”, disse o líder petista José Dirceu em entrevista à Mônica Bergamo, do jornal Folha de São Paulo, no fim de setembro passado.
Já o ex-subsecretário do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, que serviu também como embaixador dos EUA no Brasil, vê a possível volta de Trump ao poder como o provável início de um novo capítulo da recente história espelhada que Brasil e EUA têm escrito.
Nos últimos dez anos, os dois países viveram o desgate dos políticos tradicionais, a ascensão ao poder de modelos populistas de direita, a derrota nas urnas dos representantes desse modelo (Trump e Bolsonaro), as contestações ao modelo democrático que culminaram em ataques físicos às instituições pelos apoiadores desses líderes, como a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e a depredação da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
“Se o Trump for reeleito agora, isso deve ajudar Bolsonaro, porque mostra que é possível perder e ainda assim voltar ao poder quatro anos depois”, disse Shannon à BBC News Brasil.
No 8 de janeiro, golpistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília
Influencers junto à diáspora brasileira nos EUA
Paulo Figueiredo teve suas redes sociais bloqueadas no Brasil
BBC News Brasil
Tanto Figueiredo quanto Araújo se juntam, com diferente intensidade, a um esforço de brasileiros na campanha online pró-Trump. Fazem também a interface entre representantes da direita dos dois países e têm consolidado sua influência com a diáspora brasileira nos EUA.
Araújo soma quase 900 mil seguidores em sua conta do X e, atualmente licenciado do Itamaraty, vende cursos online de formação política à direita, que ele admite ter criado sob “inspiração” do guru Olavo de Carvalho, morto há dois anos.
ENTENDA
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Já Figueiredo, cuja conta do X está atualmente bloqueada no Brasil por determinação do STF, reúne 1,3 milhão de seguidores ali. Nos EUA, ele consegue operar seu perfil normalmente, sem restrições legais. Figueiredo é alvo de investigação da Polícia Federal, que o acusa de ter participação na tentativa de golpe de Estado arquitetada por expoentes do governo de Bolsonaro depois da derrota eleitoral de 2022.
Segundo o relatório do Ministro Alexandre de Moraes, que determinou medidas contra Figueiredo (como o cancelamento de seu passaporte brasileiro) no começo deste ano, ele fazia parte de uma ação coordenada para expor e pressionar comandantes militares que não concordaram em aderir aos planos golpistas. À época, ele mantinha um influente programa na emissora Jovem Pan. Figueiredo nega que tenha cometido crime, diz que realizou trabalho meramente jornalístico junto às suas fontes das Forças Armadas, que jamais tomou parte em conversas cujo objetivo fosse declaradamente um golpe de Estado e que tem sido vítima de censura prévia, já que seus perfis em redes sociais estão bloqueados.
No conteúdo produzido por Figueiredo e Araújo, o Brasil é atualmente descrito como um país “com déficit democrático”, sob o jugo de ordens que ambos veem como abusivas do STF contra a liberdade de expressão. Quando o X foi bloqueado no Brasil, depois que o bilionário Elon Musk, dono da plataforma, optou por descumprir decisões anteriores do STF, esta rede de opinião bolsonarista nos EUA passou a impulsionar uma narrativa de que, se Kamala Harris vencesse o pleito de 2024, o X viria a ser bloqueado nos EUA também. A candidata democrata jamais comentou o assunto. “Não acho que a Kamala esteja ouvindo o Alexandre (de Moraes), mas ambos tem essa visão, que foi fomentada em boa parte por profissionais desse ‘Deep State’, nas universidades, nos veículos de mídia, uma visão de que esse movimento Nacional-Populista (de Trump e Bolsonaro) precisa ser freado, e isso é feito através da censura”, argumenta Figueiredo, usando o termo em inglês adotado por Trump e por conspiracionistas de grupos como QAnon para descrever uma suposta burocracia financiada por multimilionários para impulsionar agendas de esquerda.
Em parte foi esse o argumento que Figueiredo apresentou a um grupo de congressistas americanos durante audiência no Capitólio em maio passado. Diante de nomes da direita brasileira, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o blogueiro Allan dos Santos, o ex-comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino e o deputado federal cassado e ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, Figueiredo ouviu da deputada democrata Sydney Kamlager-Dove, co-presidente da Comissão sobre Brasil, que aquela “audiência é uma tentativa de minar a democracia brasileira ao dar uma plataforma para os mesmos indivíduos que espalharam mentiras sobre as eleições” .
Há ecos dos argumentos de Figueiredo e seu grupo na manifestação de uma brasileira que parou seu carro diante da janela de drive through da lanchonete McDonalds na qual Trump servia batatas, em um ato de campanha recente. “Senhor presidente, por favor, não deixe os Estados Unidos virarem o Brasil”, disse ela.
Em suas redes, Figueiredo a endossou: “É sequer controverso que nós da diáspora brasileira não queiramos que os EUA se tornem um Brasil? É sequer controverso que a eleição da Kamala Harris empurraria a América nesta direção? Esta não é nem a primeira nem a última brasileira a dizer isso ao Trump, posso garantir”, escreveu o comentarista, sugerindo que ele mesmo já teria feito apelo semelhante ao republicano. Figueiredo afirmou à reportagem que mantém proximidade com Trump, Musk e integrantes da campanha democrata.
Afeto a Bolsonaro e cassação de vistos ao STF
Alexandre de Moraes determinou o bloqueio da plataforma X, do bilionário Elon Musk
Rosinei Coutinho/STF, Getty, Reuters
“O ex-presidente Donald Trump tem um enorme carinho pessoal pelo ex-presidente Bolsonaro, eu já testemunhei interlocução entre os dois, conheço pessoalmente razoavelmente bem Donald Trump, talvez não tão bem quanto conheço o presidente Bolsonaro, e vejo a forma afetuosa como eles lidam um com o outro. Há também uma relação de afeto grande da família do Trump com a família do Bolsonaro, especialmente com o Eduardo Bolsonaro, então há uma simpatia, há um carinho pessoal. Algumas conversas que eu testemunhei eu não posso reportar, mas posso dizer a impressão que eu tive de carinho e de preocupação com o Brasil”, afirmou Figueiredo quando questionado sobre como um governo Trump poderia alterar a situação da direita brasileira. Tanto Jair Bolsonaro quanto Eduardo Bolsonaro foram procurados para comentar, mas suas assessorias não responderam à reportagem da BBC News Brasil até a publicação desta reportagem.
Para ele, essa proximidade naturalmente transbordaria para ações de Trump na direção cara ao grupo de Bolsonaro. Ainda no argumento de Figueiredo, some-se ao afeto de Trump não apenas os interesses de Musk, atualmente o maior doador de campanha do republicano, que cerrou embates públicos com Moraes, como o histórico do assessor de Trump Jason Miller, interrogado por ordem de Moraes no aeroporto de Brasília, onde foi mantido por agentes da PF ao longo de quase 4 horas, no âmbito do inquérito das Fake News, em setembro de 2021.
À época, Miller, que era CEO de uma rede social usada majoritariamente pela direita, chamou os agentes da Polícia Federal de “Gestapo”, a polícia secreta da Alemanha Nazista.
“Musk vai ter influência no governo Trump e o Brasil está no mapa mental do Musk, então eu acho que ele vai influenciar a percepção sobre Brasil num novo governo Trump”, concorda Ernesto Araújo. “ O grande tema do momento no mundo é a liberdade de expressão e o Musk vê o Brasil como uma das principais frentes de batalha no assunto, por tudo o que aconteceu com o X. Então é alguém que pode influenciar a administração do Trump em medidas que sejam, de certa forma, mais críticas da ausência de liberdade de expressão no Brasil, mais favoráveis a uma pressão”, diz Araújo.
Como ex-chanceler do Brasil, ele disse não querer “entrar tanto em especulação sobre essa coisa de sanções”. “Porque isso depende, há coisas que são da alçado do Executivo, alguma investigação do Departamento de Justiça, mas é preciso ver se essa mudança de entendimento ficará só na Casa Branca, porque nem tudo depende só do presidente”, explicou Araújo, que como chanceler empreendeu alinhamento total do Brasil com a gestão Trump, mas não conseguiu aprovar um acordo de livre comércio com os EUA, uma meta da gestão Bolsonaro, travada no Congresso americano.
O mesmo congressista republicano que levou Figueiredo para a audiência no Congresso americano, o deputado Chris Smith, introduziu em setembro um projeto de lei que tem feito brilhar os olhos dos bolsonaristas nos EUA. Batizado de No Censors on our Shores Act, ou algo como Ato sem censores em nossa área de jurisdição, o projeto prevê a cassação de vistos ou mesmo a deportação de “qualquer autoridade estrangeira envolvida em atos de censura” contra cidadãos americanos que, se estivessem nos EUA, violariam a primeira emenda da Constituição (que garante liberdade de expressão). Tanto Figueiredo como Ernesto admitem que o alvo da lei são os ministros do STF.
“O projeto já está pronto para ser votado agora depois das eleições, a gente vai trabalhar para que seja votado ainda por essa legislatura na Câmara (de maioria republicana) e na próxima legislatura pelo Senado (quando a expectativa é que a maioria seja republicana). Não só os ministros ficariam impedidos de entrar nos Estados Unidos, mas também os delegados da Polícia Federal, juízes auxiliares, outras figuras que certamente a gente tem trabalhado para identificar. E aí a gente vai depender da sanção presidencial, e eu sou muito mais otimista com uma sanção presidencial do Donald Trump”, diz Figueiredo, para quem Trump exerceria pressão sobre a base republicana em prol do projeto de lei. “É um otimismo informado”, acrescenta.
Um segundo projeto de lei, que prevê a proibição de que agências governamentais americanas financiem ações ou deem assistência com dinheiro público a entidades estrangeiras que “promovam censura” de entes americanos poderia seguir o mesmo caminho legislativo e foi igualmente criada pensando em punir o Brasil pelo caso com o X.
Já Ernesto Araújo se mostra menos seguro de um caminho legislativo tão certo para as medidas – embora as considere também as medidas mais duras disponíveis. E tenta também reduzir expectativas: “não é que o Trump vai invadir o Brasil, precisa ver a estratégia que eles terão pro país, que instrumentos táticos estarão disponíveis, mas eu não espero nada dramático.”
Ele aposta que Trump poderia exercer algum protecionismo econômico e constranger empresas brasileiras ao abrir investigações por corrupção via Departamento de Justiça, como aconteceu com a Lava-Jato. Ou mesmo focar em empresas chinesas atuando no Brasil. O republicano tem prometido distribuir tarifas a produtos importados pelos EUA, o que também poderia afetar o Brasil.
Tanto Araújo como Figueiredo são categóricos em dizer que Trump “não se envolveria na política interna do Brasil” quando perguntados sobre como o governo do republicano poderia influenciar a aprovação de um projeto de anistia ao ex-presidente Bolsonaro e a seus aliados, que tem sido discutido no Congresso brasileiro. Mas não descartam que Trump seja capaz de promover uma mudança de atmosfera que faça as autoridades brasileiras repensarem suas ações.
Em setembro, no auge da batalha judicial com o STF, Elon Musk tuitou: ”Espero que Lula goste de voo comercial. A menos que o governo brasileiro devolva os bens ilegalmente apreendidos do X e da SpaceX, buscaremos a apreensão recíproca dos ativos do governo também”.
Naquele momento, o governo americano de Biden tinha recém confiscado um avião do líder venezuelano Nicolás Maduro, que havia descumprido acordos eleitorais e reprimia a oposição. Para Figueiredo, a reação de Musk foi apenas uma “brincadeira de um cidadão”, e não a antecipação de ações que Trump poderia tomar. Apesar disso, Figueiredo ressalva:
“É plenamente possível (sanções) e eu acho até que este é o rumo natural caso o Brasil insista nas políticas que está insistindo, inclusive a prisão do presidente Bolsonaro que está sendo projetada. Acho que se o Brasil continuar violando os acordos internacionais do qual é signatário, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, se o Brasil continuar nessa flagrante violação (do direito à liberdade de expressão), a política externa americana, que eles são soberanos pra decidir, pode ser que leve a administração Trump ao ponto de, se necessário, aplicar sanções diretamente ao Brasil”, opina Figueiredo.
Trump sem Valdemar e Foro de Madrid
Ernesto Araújo vende cursos online de formação política de direita inspirado em Olavo de Carvalho
BBC News Brasil
Araújo e, em menor grau, Figueiredo, expressaram certa expectativa de que o retorno de Trump ao poder pudesse levar Bolsonaro a retomar uma agenda mais ideológica e programática em direção à direita radical.
“Se o Trump vier com determinadas políticas que seriam semelhantes provavelmente às do mandato anterior, isso nos anima no Brasil, quem acredita nessas políticas de ideário conservador, até porque mostra que há viabilidade eleitoral nelas”, diz Araújo.
Para ele, “o Bolsonarismo se aproximou do Centrão, não o Centrão que se aproximou do Bolsonarismo, mas o exemplo de Trump, que volta ao poder sem ter se aliado a um Valdemar (da Costa Neto, presidente do PL), faz também ressurgir programas e discussões que estavam enterradas”.
Trump foi capaz de colonizar completamente o Partido Republicano, enquanto que Bolsonaro falhou em criar o seu Aliança Brasil e acabou abrigado na legenda de Valdemar. “Eu acho um erro”, diz Figueiredo.
“Nos EUA foi a liderança que absorveu o partido, no Brasil foi o contrário”, critica Araújo, que diz que a emergência de Pablo Marçal é exemplo da “demanda que existe por um líder populista de direita”.
O ex-chanceler, que atualmente trabalha na assessoria internacional do partido de direita radical espanhol Vox, diz esperar que a chegada de Trump ao poder possa impulsionar o Foro de Madrid, uma espécie de internacional dos ideários conservadores e anticomunista criada em 2020.
Ele se entusiasma com as ideias de gestão que Musk possa trazer para o grupo, imagina que os países possam replicar as estratégias de rede do bilionário e demonstra a expectativa de que a chegada de Trump ao poder signifique injeção de dólares a esse intercâmbio internacional, que também contaria com a participação dos húngaros ligados ao governo de Viktor Orban, italianos do grupo de Georgia Meloni, poloneses ligados ao presidente do país Andrzej Dudah, além de latinos dos movimentos de Javier Milei, na Argentina, e José Antônio Kast, no Chile.
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Postado em: 09:05
Internacional
Erro de cálculo de presidente sul-coreano deverá lhe custar o cargo
AP Photo/Ahn Young-joon
A desastrada tentativa do presidente Yoon Suk Yeol de impor, pela primeira vez em 44 anos, uma lei marcial aos sul-coreanos pôs seriamente em risco o seu futuro político. A reação furiosa e incisiva da população e da Assembleia Nacional forçou o rápido recuo do presidente, mas o seu erro de cálculo deverá lhe custar o cargo.
Seis partidos de oposição apresentaram uma moção de impeachment do presidente, que, se for aceita, será votada em 72 horas e poderá remover o político conservador do comando da Coreia do Sul.
Eleito em 2002 com uma diferença de menos de 1% dos votos, Yoon, de 63 anos, reúne requisitos para ser afastado: é extremamente impopular, com aprovação em torno de 17%, tem minoria no Parlamento sul-coreano e enfrenta oposição dentro de sua própria legenda.
O Partido do Poder Popular controla apenas 108 das 300 cadeiras. Para que o impeachment do presidente seja aprovado, é necessário o apoio de dois terços dos deputados. Pelo menos oito votos teriam que vir do PPP, o que não parece ser um desafio. Dos 190 legisladores que conseguiram furar, na terça-feira, o forte bloqueio de militares na Assembleia Nacional para derrubar a lei marcial, 18 pertenciam ao partido do presidente.
A curta empreitada de Yoon para impelir a lei marcial reavivou a memória do autoritarismo no país, enterrada em 1987 com o fim do regime militar. O presidente invocou supostas forças aliadas da Coreia do Norte para justificar a lei de emergência, mas seus argumentos soaram como uma manobra desesperada de aferrar-se ao cargo.
“Essa tentativa de anular instituições democráticas sugere um exagero desesperado ou impulsos antidemocráticos graves”, analisou a cientista política Darcie Draudt-Véjares, especialista do Programa da Ásia no Carnegie Endowment for International Peace.
Em abril passado, as urnas castigaram duramente a legenda de Yoon, e a Assembleia Nacional passou a ser controlada pelo opositor Partido Democrata. O presidente conseguiu aprovar apenas um terço dos projetos de lei submetidos ao Parlamento e passou a responder com o poder de veto para derrubar leis apresentadas pela oposição.
O confronto persistente entre Executivo e Legislativo faz dele um presidente pato-manco. Este é, portanto, o pano de fundo para a manobra política frustrada nesta terça-feira. Mas há mais: escândalos de corrupção e tráfico de influência abalam a sua reputação e a da família. A primeira-dama Kim Keon Hee foi flagrada, ao receber uma valiosa bolsa Dior de presente de um pastor coreano-americano.
Em contraste com o desgastado cenário interno, Yoon desfruta de certo prestígio no exterior. Foi o primeiro presidente sul-coreano a participar de uma reunião da Otan, promoveu a ajuda militar do país à Ucrânia e ampliou os laços de cooperação com os EUA e o Japão. Pode-se dizer que ele arriscou suas credenciais e que o arroubo autoritário causou, no mínimo, o desconforto entre seus aliados.
Presidente da Coreia do Sul decreta lei marcial; entenda o termo
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Postado em: 09:01
Internacional
Mattel é processada nos EUA por colocar link de site pornô em caixas de bonecas acidentalmente
Reprodução/X
A Mattel foi processada nesta terça-feira (3) por uma mulher da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, após a empresa ter colocado acidentalmente um link para um site pornô na embalagem de bonecas relacionadas ao filme de sucesso “Wicked”.
Em uma ação coletiva apresentada no Tribunal Federal de Los Angeles, Holly Ricketson afirmou que comprou uma boneca “Wicked” para sua filha, que então visitou um site de entretenimento adulto através do link fornecido pela fabricante de brinquedos.
Ricketson disse que sua filha mostrou a ela fotografias explícitas do site e que ambas ficaram “horrorizadas” com o que viram — o que, segundo ela, causou uma angústia emocional.
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A autora da ação afirmou que não teria comprado a boneca se soubesse do erro, e a Mattel não ofereceu reembolsos, apesar de ter retirado as bonecas do mercado em 11 de novembro.
A empresa se recusou a comentar sobre o processo, mas disse em um comunicado que as vendas das bonecas “Wicked” com embalagem correta foram retomadas nas lojas e online. A Mattel manifestou pesar pelo erro.
A fabricante de brinquedos com sede em El Segundo, na Califórnia, tinha a intenção de vincular os compradores ao site WickedMovie.com, e não a um site de nome semelhante destinado a pessoas com 18 anos ou mais.
A Mattel recomenda as bonecas para crianças de 4 anos ou mais. O processo movido nesta terça-feira exige pelo menos US$ 5 milhões em danos para qualquer pessoa nos Estados Unidos que tenha comprado as bonecas “Wicked” com endereço eletrônico errado na embalagem.
A ação acusa a Mattel de negligência, venda de produtos impróprios para venda e violação das leis de proteção ao consumidor da Califórnia.
“Wicked”, da Universal Pictures, estrelado por Cynthia Erivo e Ariana Grande, arrecadou US$ 263,2 milhões nos Estados Unidos e US$ 360,3 milhões pelo mundo desde o lançamento, em 22 de novembro, segundo o Box Office Mojo.
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Postado em: 06:05
Internacional
Em comissão da Câmara, María Corina Machado pede que Brasil reconheça Edmundo González como presidente da Venezuela
Getty Images via BBC
A líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, pediu para que o Brasil reconheça Edmundo González como presidente eleito do país vizinho durante participação em sessão da Comissão de Política Exterior e Defesa da Câmara dos Deputados do Brasil, na terça-feira (3). González, que disputou as eleições com Nicolás Maduro, também participou do encontro.
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“O que esperamos é que o Brasil reconheça Edmundo González como presidente eleito para que se possa pressionar Maduro e que se dê conta de que sua melhor opção é uma transição ordenada e pacífica”, disse Machado por videoconferência, segundo a Agência France-Presse (AFP).
González, que está exilado na Espanha, alega ser o legítimo presidente eleito da Venezuela. A autoridade eleitoral venezuelana proclamou Maduro eleito para um terceiro mandato de seis anos após as eleições presidenciais de 28 de julho, sem apresentar os detalhes da apuração, como determina a lei.
No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu Maduro com honras em Brasília, mas as tensões entre os dois governos escalaram semanas após as eleições venezuelanas. Lula pediu a publicação das atas eleitorais que comprovassem a vitória de Maduro, o que não ocorreu, e o Brasil vetou a entrada da Venezuela ao bloco do Brics.
Mas, em novembro, Lula disse em uma entrevista à TV que Maduro era um “problema” da Venezuela e não do Brasil, uma declaração que o presidente venezuelano recebeu positivamente.
A dirigente opositora disse que Maduro “está isolado, nacional e internacionalmente, fragilizado, sem recursos”. “Seguiremos firmes nesta posição para avançar junto de vocês para essa transição ordenada e para que Edmundo González assuma a Presidência”, acrescentou.
María Corina falou ao g1
Há uma semana, em entrevista ao g1, a líder da oposição venezuelana afirmou que Nicolás Maduro tentou enganar o presidente Lula e o povo brasileiro sobre o resultado das eleições presidenciais da Venezuela e cobrou pressão de líderes internacionais para que Maduro deixe o poder.
Líder da oposição da Venezuela diz que Maduro tentou enganar Lula
Milhões de venezuelanos foram às urnas no dia 28 de julho para eleger o presidente do país para o período entre 2025 e 2031. Edmundo González foi o candidato da oposição após outros políticos — incluindo María Corina Machado — terem sido barrados de disputar o pleito.
Sem apresentar provas, o Conselho Nacional Eleitoral, alinhado a Maduro, afirmou que o atual presidente da Venezuela venceu as eleições com pouco mais de 50% dos votos.
A oposição, por outro lado, garante que González derrotou o atual presidente com ampla vantagem com base nos documentos impressos pelas urnas de votação. O Centro Carter, ONG americana que atuou como observador das eleições, também aponta González como vencedor.
Um membro da oposição venezuelana viajou para Brasília nesta semana para mostrar os documentos das urnas a autoridades. Reuniões foram marcadas com membros da diplomacia brasileira e do Congresso Nacional.
Maria Corina Machado, 57 anos, afirmou ao g1 que Maduro acreditava que poderia enganar Lula, vendo no presidente brasileiro um aliado internacional. No entanto, segundo ela, o petista tem adotado uma postura firme para apontar que houve fraude nas eleições venezuelanas.
“O Brasil é inquestionavelmente um líder na região. É um país que durante todos esses anos insistiu na validade das instituições democráticas. Maduro acreditou que poderia enganar Lula ou enganar o povo brasileiro, mas isso não aconteceu”, afirmou.
“É um momento em que, com muita clareza e nitidez, todos os chefes de Estado, os governos, os líderes da América Latina de todas as posições ideológicas devem assumir uma posição única e unida.”
Ainda durante a entrevista, a líder da oposição venezuelana afirmou que:
acredita que Edmundo González assumirá o governo em janeiro;
a oposição ofereceu uma transição negociada ao atual presidente;
há setores das Forças Armadas insatisfeitos com Maduro;
existem diferenças entre a situação atual e a de quando Juan Guaidó se autoproclamou presidente.
Maria Corina Machado em discursos durante manifestação contra Maduro neste sábado (3)
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
Acusada de uma série de crimes pelo Ministério Público da Venezuela, Maria Corina Machado disse que continua no país e sofre perseguições, assim como outros membros da oposição.
Por questões de segurança, ela preferiu não dizer se está asilada em uma embaixada. Em agosto, em um artigo no “The Wall Street Journal”, Corina Machado afirmou que estava escondida por temer pela própria vida.
Troca de governo
Nicolás Maduro e Edmundo González
Federico PARRA/AFP
No dia 10 de janeiro de 2025, a Venezuela terá uma cerimônia para anunciar quem ficará pelos próximos seis anos no poder. Maduro, que controla a Justiça e o Congresso, se prepara para assumir o terceiro mandato.
Na oposição, ainda há esperanças de que Edmundo González assuma o poder. Em entrevistas recentes, o oposicionista que está exilado na Espanha garante que vai voltar ao país para ser empossado.
Maria Corina Machado também acredita que há possibilidades de que o regime de Maduro termine em janeiro de 2025. Ela argumenta que tem provas de que González recebeu o maior número de votos. Sendo assim, pela Constituição, é ele quem deve governar o país.
“Evidentemente Maduro, até agora, resistiu e tentou aterrorizar um país e nos prender através da repressão, da intimidação. Mas a Constituição é a Constituição, e é isso que tem que acontecer”, disse.
A líder venezuelana disse que a chapa de Edmundo González já conseguiu derrubar outras barreiras que pareciam difíceis de superar. Entre elas, vencer as eleições e conseguir reunir provas disso.
“Eu estou focada em conseguir um mandato para fazer cumprir a Constituição. Quando Maduro vai reconhecer isso? Pode ser antes de 10 de janeiro. Pode ser no dia 10 de janeiro ou até depois do mês de janeiro. Mas Maduro terá de reconhecer a verdade porque nós, venezuelanos, não vamos desistir.”
Transição negociada
Maduro comparece à Suprema Corte venezuelana
Federico PARRA / AFP
Em agosto, a oposição da Venezuela anunciou que ofereceria “garantias, salvo-conduto e incentivos” para que Nicolás Maduro faça uma transição de poder. A ideia seria uma negociação com o atual presidente, que inclusive já recebeu uma oferta de asilo político no exterior.
No mesmo mês, Maduro descartou negociar com a oposição e disse que Corina Machado tinha que se entregar à Justiça para responder “pelos crimes que cometeu”.
Agora, a líder da oposição venezuelana afirma que Maduro deveria aceitar os termos de uma transição negociada “para o seu próprio bem” e evitar um cenário devastador na Venezuela.
“Dissemos que estamos dispostos a dar garantias nesta transição, com base no reconhecimento da soberania popular expressada em 28 de julho. O que nós venezuelanos queremos é o que é bom para o nosso país, o que é bom para os países vizinhos, o que é bom para todas as nações democráticas e também o que é bom para aqueles que hoje apoiam Nicolás Maduro”, afirmou.
A líder da oposição destacou que o apoio internacional para a troca de poder na Venezuela é fundamental para pressionar o regime atual. Segundo ela, Maduro acredita que os crimes cometidos durante seu governo serão esquecidos, mas o mundo não virará a página tão facilmente.
Quando questionada sobre o que pode acontecer caso Maduro continue no poder, Corina Machado disse: “Acredite, será mais difícil para Maduro do que para nós”.
“Ele tornaria realidade o golpe de Estado mais cruel da história deste país e ficará absolutamente isolado e sozinho em condições cada vez mais difíceis ou impossíveis de sustentar. Ele não tem mais nada, ele não tem mais ninguém. Ninguém acredita nele”, afirmou.
Militares insatisfeitos
Maduro fala com seu comando militar em um evento em Caracas no dia 5 de julho.
Leonardo Fernández Viloria/ Reuters
A líder da oposição venezuelana afirmou que o regime de Nicolás Maduro só continua de pé por causa da atuação das Forças Armadas, que têm forte influência chavista.
“Vemos como em todos os cargos governamentais há algumas figuras das Forças Armadas porque Maduro sabe que isso é a única coisa que lhe resta.”
Por outro lado, Corina Machado disse que existe um descontentamento crescente nas bases militares. Nas eleições de 28 de julho, por exemplo, membros das Forças Armadas tiveram papeis decisivos para que a oposição conseguisse reunir as atas das urnas eleitorais, segundo ela.
“Essas pressões dentro das Forças Armadas crescem porque eles entendem que com Maduro não há futuro. Nós estamos oferecendo um governo democrático no qual todos os venezuelanos poderão se encontrar e fortalecer nossas instituições, começando por uma força armada profissional e bem treinada”, concluiu.
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Postado em: 03:05
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