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Internacional

Os evangélicos que veem Trump como enviado de Deus e salvador

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Muitos frequentadores de igrejas consideram Trump sua esperança, à medida que mais americanos se afastam da religião Em um palco de um centro de convenções na Flórida, na noite da eleição, com uma fileira de bandeiras americanas ao fundo e uma multidão jubilante à sua frente, Donald Trump declarou: “Muitas pessoas me disseram que Deus poupou minha vida por um motivo, e esse motivo foi salvar nosso país e restaurar a grandeza da América.”
Essa foi uma das mensagens mais marcantes de sua campanha eleitoral: a ideia de que ele havia sido escolhido por Deus.
No entanto, mesmo antes do atentado contra sua vida em 13 de julho, em Butler, na Pensilvânia, milhões de americanos já se sentiam guiados pela fé a apoiar o ex-presidente.
Alguns enxergaram a eleição em tons apocalípticos, comparando Trump a uma figura bíblica. No ano passado, no programa cristão FlashPoint, o televangelista Hank Kunneman descreveu a situação como “uma batalha entre o bem e o mal” e acrescentou: “Há algo em Trump que o inimigo teme: chama-se unção.”
Jim Caviezel, ator que interpretou Jesus no filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, proclamou, ainda que em tom de brincadeira, que Trump era “o novo Moisés”, que, segundo a Bíblia, liderou o êxodo do Egito. Nos meses que antecederam a eleição, muitos de seus apoiadores começaram a se referir a ele como um “salvador”.
A questão é: por quê? O que faz tantas pessoas enxergarem nesse homem, que não é conhecido por ter uma fé particularmente sólida, alguém enviado por Deus?
E o que isso revela sobre o cristianismo de forma mais ampla, em um país onde o número de frequentadores de igrejas está em rápida queda?
‘Todos nós pecamos’
O reverendo Franklin Graham, um dos evangelistas mais conhecidos dos Estados Unidos e filho de Billy Graham, considerado por muitos o pregador mais famoso do país, é um dos fiéis apoiadores de Trump. Ele está convencido de que não há dúvida: o presidente eleito foi escolhido por Deus para esta missão.
“A bala que atravessou sua orelha passou a um milímetro do cérebro, e sua cabeça virou no último segundo, no momento em que o disparo foi feito”, afirma Graham. “Acredito que foi Deus quem virou sua cabeça e salvou sua vida.”
As questões levantadas sobre o caráter de Trump — incluindo acusações de má conduta sexual e seu suposto caso com a atriz de filmes adultos Stormy Daniels, além do julgamento relacionado ao pagamento de silêncio — não abalam a convicção de Graham.
“Lembre-se de quando Jesus disse à multidão: ‘Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra’ e, aos poucos, todos começaram a ir embora? Todos nós pecamos.”
Parte do motivo pelo qual alguns cristãos podem achar mais fácil ignorar questões relacionadas ao caráter de Trump é que, durante seu primeiro mandato, ele cumpriu uma promessa específica: nomear juízes antiaborto para a Suprema Corte dos Estados Unidos.
Para o reverendo Graham, isso é uma prova de que o presidente eleito é um homem de integridade.
“Isso é uma grande vitória para os cristãos, especialmente os evangélicos”, afirma. “Acreditamos que o presidente defenderá a liberdade religiosa, algo que os democratas não fariam.”
A escolha de Mike Huckabee como embaixador em Israel já sugere que a fé poderá influenciar parte da política externa. Evangélicos americanos, incluindo Huckabee, estão entre os mais fervorosos defensores de Israel.
Muitos deles acreditam que os judeus devem ocupar toda a região da Israel bíblica — incluindo o que hoje corresponde à Cisjordânia ocupada e Gaza — para desencadear eventos que levariam à Segunda Vinda de Jesus Cristo.
Religião em rápido declínio
No passado, Donald Trump mencionou ter tido uma formação presbiteriana. No entanto, apesar do forte apoio dos cristãos na eleição, ele não se esforçou para convencê-los, em sua campanha mais recente, de que fazia parte do mesmo grupo religioso.
“Acho que ele percebeu que seria um pouco exagerado argumentar que ele próprio é um homem religioso. Em vez disso, adotou uma abordagem de quid pro quo (‘algo dado a uma pessoa em troca de outra coisa’, na interpretação em inglês)”, afirma Robert Jones, fundador e presidente do Instituto de Pesquisa sobre Religião Pública (PRRI), que há muito tempo acompanha as tendências religiosas nos EUA.
Essa abordagem focou nas mudanças demográficas e no número cada vez menor de frequentadores de igrejas.
No início da década de 1990, cerca de 90% dos adultos nos Estados Unidos se identificavam como cristãos — um percentual que caiu para 64% no início desta década, acompanhado por um grande aumento no número de pessoas sem afiliação religiosa, segundo dados do Pew Research Center.
Segundo Jones, isso foi algo que Trump soube explorar.
“A mensagem de Trump foi: ‘Eu sei que vocês estão em declínio, sei que seus números estão diminuindo. Sei que seus filhos e netos não frequentam mais suas igrejas, mas, se me elegerem, vou restaurar o poder às igrejas cristãs.'”
No entanto, nem todos os cristãos dos EUA foram convencidos. Para alguns, sua fé os levou a ter uma impressão diametralmente oposta sobre Trump.
‘Trump desvalorizou e degradou’
Nos últimos meses, do púlpito da Bíblia Ways Ministries em Atlanta, Geórgia, o reverendo Monte Norwood tem compartilhado uma mensagem bem diferente da de Franklin Graham.
Ele, por exemplo, ficou desolado com o resultado da eleição da semana passada.
“Trump desvalorizou e degradou praticamente qualquer pessoa que pôde, desde imigrantes e minorias até mulheres e pessoas com deficiência”, afirma.
“O cristianismo conservador branco republicano que ignora o caráter é simplesmente hipócrita.”
Ele sempre se opôs à ideia de uma segunda presidência de Trump e expressou essa posição nas redes sociais e por meio de ativismo, incentivando a participação eleitoral — como ajudar outros eleitores negros a se registrar e a acessar transporte gratuito para as urnas.
“Eu sou um cristão do tipo de Mateus, capítulo 25 — onde Jesus disse: ‘Quando tive fome, vocês me alimentaram; quando tive sede, me deram de beber.'”
O padrão do voto cristão na história
A pesquisa do PRRI investigou os registros de voto ao longo da história, não apenas com base na prática e crença religiosa, mas também por raça, e descobriu que, quando se trata de opiniões políticas, existe uma tendência clara há décadas.
“Quase sem exceção, os grupos cristãos brancos tendem a votar no Partido Republicano nas eleições presidenciais” afirma Jones. “Grupos cristãos não brancos, grupos não cristãos e eleitores sem afiliação religiosa tendem a votar no Partido Democrata.”
Esse padrão remonta à década de 1960, acrescenta, quando o Partido Democrata passou a ser associado ao movimento pelos direitos civis e os grupos cristãos brancos começaram a migrar para o Partido Republicano.
As pesquisas realizadas antes da eleição de 2024, que analisaram a intenção de voto, indicaram que, em grande parte, esse padrão se manteve. “De acordo com nossas pesquisas, o Partido Republicano é composto por 70% de brancos e cristãos, enquanto o Partido Democrata é composto apenas por um quarto de brancos e cristãos.”
Segundo a pesquisa do PRRI com 5.027 adultos, eleitores protestantes evangélicos brancos foram os maiores apoiadores de Trump, com 72% de preferência contra 13% para Kamala Harris. Eleitores católicos brancos também apoiaram Trump, com 55% a seu favor e 34% alinhados com Kamala. Protestantes “mainline” (vertente do protestantismo que se caracteriza por uma postura liberal) não evangélicos brancos mostraram uma divisão semelhante.
Em contraste, 78% dos protestantes negros apoiaram Kamala, enquanto apenas 9% apoiaram Trump, segundo a pesquisa. Os apoiadores de Kamala também incluíram judeus-americanos, eleitores sem afiliação religiosa e outros americanos não cristãos, de acordo com o PRRI.
Quando se tratou do voto efetivo, surgiram sinais de mudanças nos padrões familiares.
Os resultados de Michigan mostraram uma clara migração de eleitores muçulmanos para o Partido Republicano no Estado, provavelmente como resultado do papel da administração Biden no apoio a Israel na guerra em Gaza.
A análise também indica que mais católicos latinos votaram em Trump do que o esperado, quando, anteriormente, tendiam a se alinhar com o Partido Democrata.
A dificuldade econômica, provocada pela inflação crescente, entre outros fatores, provavelmente fez com que eleitores “não tradicionais” do Partido Republicano se sentissem atraídos a votar em Trump.
Quanto ao seu apelo aos cristãos tradicionalistas, Jones argumenta que houve um componente religioso na ideia de “Fazer a América Grande Novamente”, com a promessa de restaurar o caráter cristão do país.
“Sua campanha foi de ressentimento, perda e nostalgia,” afirma Jones, “e isso inclui uma nostalgia do ponto de vista da fé.”
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O futuro da fé nos EUA
Apesar de sua força política, uma coisa que Trump não pode fazer é barrar a onda de mudanças demográficas nos EUA — incluindo o afastamento da fé.
Embora o número de pessoas que se identificam como “ateus” ainda seja inferior ao de muitos países ocidentais, o número de pessoas que se dizem “sem afiliação religiosa” está crescendo.
Há um componente geracional nisso, juntamente com as tendências familiares de que a economia pessoal proporciona maior autonomia para as pessoas se distanciarem das normas aceitas em suas comunidades. Mas há outras razões também.
Um terço dos ateus ou agnósticos americanos afirmam ter se desviado de sua religião de infância devido aos escândalos de abuso sexual de alto perfil envolvendo a Igreja, segundo um estudo do PPRI.
Em 2020, a Igreja Católica divulgou listas de membros vivos do clero nos EUA acusados de abusos, incluindo alguns relacionados a pornografia infantil e estupro. Havia cerca de 2 mil nomes.
Dois anos depois, a Conferência Batista do Sul, que reúne igrejas protestantes dos EUA, publicou uma lista com centenas de líderes religiosos acusados de abuso infantil entre 2000 e 2019.
Isso revela a magnitude do problema que Trump enfrenta. No entanto, Franklin Graham se mantém otimista.
“A frequência às igrejas não vai aumentar na próxima semana porque o presidente Trump foi eleito — mas o que eu acho que isso significa é que a legislação que poderíamos ver surgindo e que dificultaria a vida das pessoas de fé não virá”, diz ele, referindo-se à possibilidade de uma legislação mais progressista, como a que envolve, por exemplo, aborto e direitos de pessoas gays e trans.
“Ele vai proteger as pessoas de fé, ele vai proteger as liberdades religiosas neste país. Eu não falo apenas sobre as liberdades religiosas cristãs… [mas] de todas as pessoas de fé.”
Quanto a saber se ele está certo, os americanos só podem assistir e esperar. Mas, assim como alguns celebram a promessa de uma governança influenciada pelo cristianismo, outros certamente estão apreensivos.

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Postado em: 16:02

Internacional

Departamento de Justiça dos EUA quer que Google venda o navegador Chrome

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Proposta visa frear monopólio do Google e impõe restrições ao Android para evitar o favorecimento de seu mecanismo de pesquisa. O logotipo do Google é visto em um dos complexos de escritórios da empresa em Irvine, Califórnia, nos Estados Unidos
Mike Blake/Reuters/Arquivo
O Departamento de Justiça dos EUA está recomendando a separação entre o Google e o navegador Chrome. Os reguladores sugerem a venda do serviço como medida para evitar o monopólio da empresa no setor de buscas.
A proposta, divulgada nesta quarta-feira (20) em um documento de 23 páginas, ainda inclui restrições para impedir que o Android favoreça o mecanismo de busca do Google.
O Chrome, navegador mais usado no mundo, é essencial para os negócios da big tech, fornecendo dados dos usuários que permitem segmentar anúncios de maneira mais eficaz e lucrativa, segundo a agência Reuters.
“O campo de jogo não é nivelado devido à conduta do Google, e a qualidade do serviço reflete os ganhos ilícitos de uma vantagem adquirida ilegalmente”, afirmou o Departamento de Justiça em suas recomendações. “A solução deve fechar essa lacuna e privar o Google dessas vantagens”, completou.
Kent Walker, diretor jurídico do Google, atacou o Departamento de Justiça por buscar “uma agenda intervencionista radical que prejudicaria os americanos e a tecnologia global dos Estados Unidos”.
Em uma postagem no blog, Walker alertou que a “proposta excessivamente ampla” ameaçaria a privacidade pessoal enquanto minava a liderança inicial do Google em inteligência artificial, “talvez a inovação mais importante do nosso tempo”.
Medida pode afetar o Android
Embora os reguladores não tenham exigido a venda do Android, afirmaram que o juiz deve deixar claro que a empresa pode ser obrigada a se desfazer de seu sistema operacional para smartphones. Isso acontecerá se seu comitê de supervisão continuar encontrando evidências de má conduta, segundo a agência Associated Press.
As penalidades propostas refletem a gravidade com que os reguladores do governo Biden veem a necessidade de punir o Google, após a decisão de agosto do juiz Amit Mehta, do Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito de Columbia, que classificou a empresa como monopolista.
A equipe do Departamento de Justiça que assumirá o caso com o presidente eleito Donald Trump no próximo ano pode adotar uma postura menos rígida. As audiências sobre a punição do Google estão previstas para abril, com a decisão final do juiz Mehta esperada até o Dia do Trabalho, em 1º de maio.
Se Mehta adotar as recomendações do governo, o Google será forçado a vender seu navegador Chrome de 16 anos dentro de seis meses após a decisão final. Mas a empresa certamente apelaria de qualquer punição, prolongando a disputa.
O navegador rival do Google, DuckDuckGo, cujos executivos testemunharam durante o julgamento do ano passado, defendeu as recomendações e afirmou que o Departamento de Justiça está apenas fazendo o necessário para controlar um monopolista flagrante.
Decisão será tomada no governo Trump
Ainda é possível que o Departamento de Justiça possa aliviar as tentativas de dividir o Google, especialmente se Trump der o passo amplamente esperado de substituir o procurador-geral adjunto Jonathan Kanter, que foi nomeado por Biden para supervisionar a divisão antitruste da agência.
Trump recentemente expressou preocupação de que uma separação possa destruir o Google, mas não elaborou penalidades alternativas que ele poderia ter em mente.
“O que você pode fazer sem dividir é garantir que seja mais justo”, disse Trump no mês passado. Matt Gaetz, o ex-congressista republicano que Trump nomeou para ser o próximo procurador-geral dos EUA, já havia pedido a dissolução das grandes empresas de tecnologia.
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Postado em: 10:01

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Internacional

Mortes em Gaza passam de 44 mil

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O número de mortos na Faixa de Gaza por conta da ofensiva militar desde o início da guerra entre Israel e o Hamas passou de 44 mil pessoas, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira (21) pelo Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
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As mortes, ainda segundo o ministério, foram provocadas por bombardeios ou incursões por terra de militares de Israel. O balanço inclui não detalha quantos eram civis e quantos, terroristas do Hamas e de outros grupos armados que atuam na Faixa de Gaza.
Já o governo de Israel afirmou que cerca de 17 mil mortos em Gaza eram terroristas.

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Postado em: 09:00

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Internacional

Rússia diz ter derrubado dois mísseis do Reino Unido disparados pela Ucrânia

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Os mísseis Storm Shadow, fornecidos pelo Reino Unido, aliados da Ucrânia, são feitos para destruir alvos estáticos e muito grandes. Míssil de cruzeiro Storm Shadow, fabricado pelo Reino Unido.
AP Photo/Lewis Joly, File
A Rússia disse nesta quinta-feira (21) que derrubou dois míssies “Storm Shadow”, produzidos pelo Reino Unido e utlizados pela Ucrânia.
Nesta semana, o governo britânico autorizou a Ucrânia a utilizar os artefatos para atacar o país vizinho.
O ministro da Defesa russo disse que foguetes norte-americanos também foram derrubados. “As defesas aéreas derrubaram dois mísseis de cruzeiro Storm Shadow produzidos pelo Reino Unido, seis foguetes HIMARS dos Estados Unidos e 67 veículos aéreos não tripulados”, disse.
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A Ucrânia disparou mísseis Storm Shadow, britânicos e de longo alcance, contra a Rússia nesta quarta-feira (20), segundo a agência de notícias norte-americana “Bloomberg”. Esta é a primeira vez que os ucranianos utilizam esse tipo de míssil na guerra, iniciada em 2022.
Os mísseis Storm Shadow têm um alcance de 250 km e são feitos para destruir alvos estáticos e muito grandes. Ainda não se sabe se os projéteiss disparados pela Ucrânia nesta quarta foram interceptados pelas defesas russas.
A utilização dos Storm Shadow ocorreu dias após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, permitir que os ucranianos usassem mísseis de longo alcance ATACMS contra o território russo. O primeiro uso dos ATACMS ocorreu na terça.
O Reino Unido havia declarado anteriormente que a Ucrânia poderia usar os mísseis de cruzeiro Storm Shadow dentro do território ucraniano, mas o governo vinha pressionando os Estados Unidos há meses por permissão para utilizá-los em ataques a alvos dentro da Rússia.
Era esperado que o Reino Unido autorizasse a Ucrânia a utilizarem o Storm Shadow dentro do território russo após a autorização dos EUA. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou na terça que os ucranianos “têm que ter o que for necessário” para vencer a Rússia.
Uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia
Míssil americano ATACMS em lançamento teste pelo Exército dos EUA em dezembro de 2021.
John Hamilton/U.S. Army via AP, File
A Ucrânia utilizou pela primeira vez os mísseis ATACMS, os artefatos de longo alcance cedidos pelos Estados Unidos, em um ataque ao território russo nesta terça-feira (19).
A Rússia, que considera o uso desses mísseis uma ingerência direta dos EUA, prometeu retaliação e, também nesta terça, flexibilizou seus parâmetros para o uso armas nucleares (leia mais abaixo), indicando uma escalada — o país é a maior potência nuclear do mundo.
O Ministério da Defesa russo afirmou que Kiev lançou seis mísseis ATACMS em direção a Bryansk, região no sudoeste da Rússia e perto da fronteira com a Ucrânia, durante a madrugada.
Ainda segundo o ministério, cinco mísseis foram interceptados e o sexto, parcialmente destruído. Apenas alguns destroços de um dos artefatos caíram perto de uma área do Exército, causando um incêndio sem danos estruturais.
Também não houve vítimas, completou a pasta.
O governo ucraniano não havia se manifestado oficialmente sobre o caso até a última atualização desta reportagem, mas fontes do governo dos Estados Unidos e do Exército ucraniano confirmaram o ataque com os mísseis ATACMS à agência de notícias Reuters.
É praxe de Kiev não se pronunciar em acusações de ataques em território russo.
Em entrevista coletiva no Rio de Janeiro, onde foi para participar da cúpula do G20, o chanceler russo, Sergey Lavrov, disse que o ataque “é um sinal que o Ocidente busca uma escalada na guerra”.
1.000 dias
Também nesta terça-feira (19), a guerra da Ucrânia completou 1.000 dias sem nenhuma perspectiva de fim — não há negociações de paz em andamento, e a situação no front de guerra está estancada. Atualmente, militares russos controlam cerca de 20% do território ucraniano, mas não conseguem avançar.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lançou recentemente um plano para expulsar de vez as tropas russas, mas não deixou claro como vai implementá-lo.
LEIA MAIS:
ATAQUES PRECISOS A ALVOS A ATÉ 300 KM: os detalhes do ATACMS, míssil americano que a Ucrânia usou para atacar a Rússia
AVAL PARA USO DOS ATACMS: como a decisão de Biden pode ampliar guerra
Nova doutrina para armas nucleares
Mais cedo, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto flexibilizando o uso de armas nucleares por parte de seu Exército. A medida atualiza a doutrina russa que específica momentos em que seria autorizado o uso de armas nucleares.
Com a atualização, a Rússia agora considerará fazer um ataque nuclear se seu território ou de Belarus, país aliado, enfrentem uma agressão “com o uso de armas convencionais que crie uma ameaça crítica à sua soberania e (ou) à sua integridade territorial”, segundo o texto.
A doutrina anterior, estabelecida em um decreto de 2020, dizia que a Rússia poderia usar armas nucleares no caso de um ataque nuclear por um inimigo ou um ataque convencional que ameaçasse a existência do Estado.
Segundo um Kremlin, foi uma “resposta necessária” diante de novas ameaças do Ocidente.
No domingo (17), o presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance ATACMS, fornecidos pelos americanos, para atacar o território da Rússia, revelou no jornal americano “The New York Times” no domingo (17).
A liberação do uso dos mísseis americanos pela Ucrânia ocorre como reação ao envio de tropas norte-coreanas para lutarem na guerra na Ucrânia ao lado dos russos, e marca uma mudança de posição de Biden sobre o tema, dois meses antes de que ele deixe a presidência dos EUA — desde o início da guerra, Washington vinha resistindo autorizar o uso de mísseis para evitar escalada no conflito.
A Rússia disse que Biden “quis jogar lenha na fogueira”.
Os mísseis ATACMS
ATACMS: os mísseis americanos que a Ucrânia poderá usar contra a Rússia
▶️ O que são os mísseis ATACMS? A sigla ATACMS significa Army Tactical Missile Systems (em português, Sistemas de Mísseis Táticos do Exército dos EUA). Leia mais sobre o míssil ATACMS aqui.
Os ATACMS são considerados um armamento avançado e permitem ataques com precisão a uma distância de até 300 km.
Por outro lado, a Rússia tem o mais vasto arsenal de mísseis do mundo — segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) —, como o 9k720 Iskander, que se assemelha às capacidades do ATACMS.
Veja a comparação entre os dois mísseis no infográfico abaixo:
Ficha técnica de mísseis ATACMS, dos EUA, e Iskander, da Rússia.
Bruna Azevedo/equipe de arte g1
Apesar do ATACMS ser considerado um míssil de longo alcance pelo governo dos EUA e pelo fabricante, Lockheed Martin, outros parâmetros, como o da enciclopédia Britannica e do CSIS o considerarem de curto alcance (até 480 km de distância).
De acordo com levantamento do CSIS, a Rússia tem ao menos tipos de 24 mísseis em seu arsenal, que variam entre mísseis de curto alcance, como o Iskander, até mísseis de cruzeiro e intercontinentais (alcance maior que 5.300 km).
Escalada do conflito
Presidente dos EUA, Joe Biden (à esquerda), e presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Reprodução
Até agora, a Ucrânia estava vetada de utilizar mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA. O disparo de mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA contra a Rússia era um tabu, porque o presidente russo, Vladimir Putin, considera que isso muda o caráter do conflito e havia prometido represálias. Entre as ameaças que fez ao Ocidente, Putin disse que realizaria testes nucleares.
Biden mudou de posição a menos de dois meses de deixar a Casa Branca. Em janeiro, o republicano Donald Trump assume a presidência americana, e não se sabe se ele manterá o apoio à Ucrânia no conflito.
A retirada da restrição ocorre em um momento de escalada nas tensões entre países da Ásia, da Europa e dos EUA. Uma nova fase da ofensiva russa em território ucraniano a partir de maio fez Otan e EUA, aliados da Ucrânia, considerarem a autorização para utilização de mísseis de longo alcance fornecidos aos ucranianos.
Com essa nova fase da guerra, os EUA começaram a levantar algumas restrições, deixando apenas a dos mísseis de longo alcance. Já países da Europa reforçaram os pacotes de ajuda financeira e o presidente da França, Emmanual Macron, chegou até a considerar enviar tropas francesas para a Ucrânia, e foi ameaçado por Putin.
▶️ Por que isso é importante? Os russos afirmam que uma linha vermelha seria ultrapassada se mísseis ocidentais fossem usados em seu território.
Zelensky e Biden após assinarem acordo nesta quinta-feira (13).
Alessandro Garofalo/Reuters
Os Estados Unidos e outros membros da OTAN –enquanto apoiam a Ucrânia com armas, treinamento e ajuda financeira– estão tentando evitar um confronto direto com a Rússia.
Por isso, a decisão de retirar a proibição do uso dos mísseis americanos de longo alcance é uma grande mudança na postura de Biden, que se manteve cauteloso sobre esse assunto durante seu governo. A permissão ocorre também após a vitória de Trump nas eleições dos EUA.
A agência de notícias Tass noticiou que parlamentares russos consideram a permissão para que a Ucrânia ataque dentro da Rússia com mísseis dos EUA um passo sem precedentes, que pode levar a uma terceira guerra mundial. A nota afirma, ainda, que a resposta será imediata.
A Rússia e a Coreia do Norte estreitaram relações –diplomáticas e militares–, o que levou ao posicionamento de tropas norte-coreanas para lutarem na Ucrânia ao lado das russas. Diante disso, o Pentágono já havia dito que não haveria restrição de armas que a Ucrânia poderia utilizar.
Segundo as autoridades americanas ouvidas pelo “The New York Times”, o temor de que Putin suba ainda mais o tom por conta da autorização do uso de mísseis americanos pela Ucrânia ainda existe, mas foi superado pela urgência do atual cenário da guerra.
Ucrânia e Rússia estão em guerra desde fevereiro de 2022, após uma invasão de tropas russas em território ucraniano. O avanço russo continua: na última semana de outubro, tropas de Putin fizeram o avanço mais rápido desde o início do conflito. Na Ucrânia, o presidente Zelensky apresentou um “plano da vitória” na guerra contra a Rússia aos EUA e ao Parlamento ucraniano em outubro.
A ameaça de Putin caso Ucrânia passe a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia
Tropas da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia
Míssil americano ATACMS em lançamento teste pelo Exército dos EUA em dezembro de 2021.
John Hamilton/U.S. Army via AP, File
Em meados de outubro, a agência de inteligência da Coreia do Sul disse ter descoberto o envio de 1.500 tropas norte-coreanas à Rússia. O número foi atualizado e a estimativa dos governos sul-coreano e ucraniano é que entre 10 e 12 mil soldados norte-coreanos sejam enviados até dezembro.
Segundo o “The New York Times”, esse número pode chegar até 50 mil soldados da Coreia do Norte fornecidos às forças russas, e eles poderiam ser utilizados em uma nova fase de ofensiva contra a Ucrânia.
Segundo a Coreia do Sul, cerca de 12 mil soldados norte-coreanos já foram enviados à Rússia em segredo e estão recebendo treinamento em bases militares russas. A inteligência ucraniana disse ainda que cerca de 12 mil soldados da Coreia do Norte já estão na Rússia, e o treinamento das tropas está ocorrendo em cinco bases militares.
Os EUA estimam que o emprego das tropas norte-coreanas na guerra foi concretizado no final de outubro.
O envolvimento da Coreia do Norte na guerra entre Rússia e Ucrânia aumentou o nível de alerta e as tensões com a Coreia do Sul e países do Ocidente membros da Otan. Os EUA, a Holanda e a própria Otan afirmaram terem provas do envio das tropas à Rússia, e consideram uma escalada “muito séria” no conflito. Autoridades de Seul afirmaram que o país avalia fornecer armas à Ucrânia como resposta.
O presidente russo Vladimir Putin disse nesta sexta que “é da nossa conta” se o país utiliza tropas norte-coreanas e pode fazer o que quiser para garantir a segurança da Rússia.
De acordo com o presidente, o Exército russo está avançando por todas as frentes de batalha no território ucraniano e encurralou um grande número de tropas na região de Kursk. Em meio à polêmica, parlamentares russos ratificaram um pacto com a Coreia do Norte que prevê assistência militar mútua.

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Postado em: 08:04

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