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Internacional

EUA colocarão ‘lenha na fogueira’ com autorização de uso de mísseis pela Ucrânia, diz Kremlin

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Porta-voz do governo russo disse ver risco de ‘guerra mundial’. No domingo (17), reportagem do ‘The New York Times’ afirmou que EUA autorizoiu que forças de Kiev usem mísseis americanos de longo alcance para atacar Rússia. Zelensky e Biden após assinarem acordo nesta quinta-feira (13).
Alessandro Garofalo/Reuters
O Kremlin disse nesta segunda-feira (18) temer uma escalada global da guerra na Ucrânia caso os Estados Unidos autorizem de fato o uso de seus mísseis de longo alcance pelas Forças de Kiev.
No domingo (17), uma reportagem do jornal “The New York Times” afirmou que o presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a utilizar os mísseis ATACMS, artefatos de longo alcance produzidos pelos Estados Unidos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse achar que Biden está colocando “lenha na fogueira” do conflito na Ucrânia.
“É óbvio que o governo cessante em Washington pretende tomar medidas para continuar a colocar lenha na fogueira e continuar a provocar tensão em torno deste conflito”, disse Peskov.
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Segundo o The New York Times, a mudança de postura do governo americano ocorre por conta do envio de tropas norte-coreanas para lutarem na guerra na Ucrânia ao lado dos russos.
Ainda de acordo com o jornal, os mísseis de longo alcance devem começar a ser utilizados contra as tropas russas e norte-coreanas na região de Kursk, no oeste da Rússia, região tomada pela Ucrânia em uma contraofensiva em agosto. (leia mais sobre as tropas norte-coreanas abaixo)
O presidente ucraniano,Volodymyr Zelensky, disse no domingo que “os mísseis falam por si mesmos” e que “coisas assim não são anunciadas”.
Algumas autoridades do Pentágono se opuseram a fornecer os mísseis de longo alcance aos ucranianos sob a justificativa de que o Exército dos EUA tinha suprimentos limitados, e alguns funcionários da Casa Branca temiam que Putin pudesse ampliar a guerra se eles dessem os mísseis aos ucranianos, segundo o jornal americano.
A Ucrânia estava vetada de utilizar esse tipo de armamento americano até o momento. O uso dos mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA era um tabu na guerra contra a Rússia, porque o presidente russo, Vladimir Putin, considera que isso muda o caráter do conflito e havia prometido represálias. Entre as ameaças que fez, Putin disse que realizaria testes nucleares.
A ameaça de Putin caso Ucrânia passe a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia
A decisão de retirar a proibição do uso dos mísseis americanos de longo alcance é uma grande mudança na postura de Biden, que se manteve cauteloso sobre esse assunto durante seu governo. A permissão ocorre também após a vitória de Trump nas eleições dos EUA. O republicano é crítico do apoio financeiro aos ucranianos e prometeu terminar a guerra “em 24 horas”, mas sem explicar como. Ainda não se sabe se Trump reverteria a decisão quando assumir a presidência, em 20 de janeiro.
A agência de notícias Tass noticiou que parlamentares russos consideram a permissão para que a Ucrânia ataque dentro da Rússia com mísseis dos EUA um passo sem precedentes, que pode levar a uma terceira guerra mundial. A nota afirma, ainda, que a resposta será imediata.
A retirada da restrição ocorre em um momento de escalada nas tensões entre países da Ásia, da Europa e dos EUA. Uma nova fase da ofensiva russa em território ucraniano a partir de maio fez Otan e EUA, aliados da Ucrânia, considerarem a autorização para utilização de mísseis de longo alcance fornecidos aos ucranianos.
Com essa nova fase da guerra, os EUA começaram a levantar algumas restrições, deixando apenas a dos mísseis de longo alcance. Já países da Europa reforçaram os pacotes de ajuda financeira e o presidente da França, Emmanual Macron, chegou até a considerar enviar tropas francesas para a Ucrânia, e foi ameaçado por Putin.
Em contrapartida, Rússia e a Coreia do Norte estreitaram relações –diplomáticas e militares–, o que levou ao posicionamento de tropas norte-coreanas para lutarem na Ucrânia ao lado das russas. Diante disso, o Pentágono já havia dito que não haveria restrição de armas que a Ucrânia poderia utilizar.
Segundo as autoridades americanas ouvidas pelo “The New York Times”, o temor de que Putin suba ainda mais o tom por conta da autorização do uso de mísseis americanos pela Ucrânia ainda existe, mas foi superado pela urgência do atual cenário da guerra.
Ucrânia e Rússia estão em guerra desde fevereiro de 2022, após uma invasão de tropas russas em território ucraniano. O avanço russo continua: na última semana de outubro, tropas de Putin fizeram o avanço mais rápido desde o início do conflito. Na Ucrânia, o presidente Zelensky apresentou um “plano da vitória” na guerra contra a Rússia aos EUA e ao Parlamento ucraniano em outubro.
Tropas da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia
Em meados de outubro, a agência de inteligência da Coreia do Sul disse ter descoberto o envio de 1.500 tropas norte-coreanas à Rússia. O número foi atualizado e a estimativa dos governos sul-coreano e ucraniano é que entre 10 e 12 mil soldados norte-coreanos sejam enviados até dezembro.
Segundo o “The New York Times”, esse número pode chegar até 50 mil soldados da Coreia do Norte fornecidos às forças russas, e eles poderiam ser utilizados em uma nova fase de ofensiva contra a Ucrânia.
Segundo a Coreia do Sul, cerca de 12 mil soldados norte-coreanos já foram enviados à Rússia em segredo e estão recebendo treinamento em bases militares russas. A inteligência ucraniana disse ainda que cerca de 12 mil soldados da Coreia do Norte já estão na Rússia, e o treinamento das tropas está ocorrendo em cinco bases militares.
Os EUA estimam que o emprego das tropas norte-coreanas na guerra foi concretizado no final de outubro.
O envolvimento da Coreia do Norte na guerra entre Rússia e Ucrânia aumentou o nível de alerta e as tensões com a Coreia do Sul e países do Ocidente membros da Otan. Os EUA, a Holanda e a própria Otan afirmaram terem provas do envio das tropas à Rússia, e consideram uma escalada “muito séria” no conflito. Autoridades de Seul afirmaram que o país avalia fornecer armas à Ucrânia como resposta.
O presidente russo Vladimir Putin disse nesta sexta que “é da nossa conta” se o país utiliza tropas norte-coreanas e pode fazer o que quiser para garantir a segurança da Rússia.
De acordo com o presidente, o Exército russo está avançando por todas as frentes de batalha no território ucraniano e encurralou um grande número de tropas na região de Kursk. Em meio à polêmica, parlamentares russos ratificaram um pacto com a Coreia do Norte que prevê assistência militar mútua.

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Postado em: 09:05

Internacional

Edmundo González e María Corina Machado falam em comissão da Câmara

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A líder da oposição na Venezuela e o candidato, que está exilado na Espanha, irão participar de sessão da Comissão de Política Exterior e Defesa a partir das 14h30 desta terça-feira (3). María Corina Machado e Edmundo González Urrutia.
Getty Images via BBC
Edmundo González e María Corina Machado irão participar de uma sessão da Comissão de Política Exterior e Defesa da Câmara dos Deputados, a partir das 14h30 desta terça-feira (3).
O anúncio foi feito pelo próprio Gonzaléz, que disputou as eleições presidenciais com Nicolás Maduro em julho e alega ser o legítimo presidente eleito da Venezuela.
Exilado na Espanha, ele disse que ele e a líder da oposição venezuelana irão falar de “temas de grande importância” e convidou a todos para acompanhar ao vivo.
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María Corina falou ao g1
Há uma semana, em entrevista ao g1, a líder da oposição venezuelana afirmou que Nicolás Maduro tentou enganar o presidente Lula e o povo brasileiro sobre o resultado das eleições presidenciais da Venezuela e cobrou pressão de líderes internacionais para que Maduro deixe o poder.
Líder da oposição da Venezuela diz que Maduro tentou enganar Lula
Milhões de venezuelanos foram às urnas no dia 28 de julho para eleger o presidente do país para o período entre 2025 e 2031. Edmundo González foi o candidato da oposição após outros políticos — incluindo María Corina Machado — terem sido barrados de disputar o pleito.
Sem apresentar provas, o Conselho Nacional Eleitoral, alinhado a Maduro, afirmou que o atual presidente da Venezuela venceu as eleições com pouco mais de 50% dos votos.
A oposição, por outro lado, garante que González derrotou o atual presidente com ampla vantagem com base nos documentos impressos pelas urnas de votação. O Centro Carter, ONG americana que atuou como observador das eleições, também aponta González como vencedor.
Um membro da oposição venezuelana viajou para Brasília nesta semana para mostrar os documentos das urnas a autoridades. Reuniões foram marcadas com membros da diplomacia brasileira e do Congresso Nacional.
Maria Corina Machado, 57 anos, afirmou ao g1 que Maduro acreditava que poderia enganar Lula, vendo no presidente brasileiro um aliado internacional. No entanto, segundo ela, o petista tem adotado uma postura firme para apontar que houve fraude nas eleições venezuelanas.
“O Brasil é inquestionavelmente um líder na região. É um país que durante todos esses anos insistiu na validade das instituições democráticas. Maduro acreditou que poderia enganar Lula ou enganar o povo brasileiro, mas isso não aconteceu”, afirmou.
“É um momento em que, com muita clareza e nitidez, todos os chefes de Estado, os governos, os líderes da América Latina de todas as posições ideológicas devem assumir uma posição única e unida.”
Ainda durante a entrevista, a líder da oposição venezuelana afirmou que:
acredita que Edmundo González assumirá o governo em janeiro;
a oposição ofereceu uma transição negociada ao atual presidente;
há setores das Forças Armadas insatisfeitos com Maduro;
existem diferenças entre a situação atual e a de quando Juan Guaidó se autoproclamou presidente.
Maria Corina Machado em discursos durante manifestação contra Maduro neste sábado (3)
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
Acusada de uma série de crimes pelo Ministério Público da Venezuela, Maria Corina Machado disse que continua no país e sofre perseguições, assim como outros membros da oposição.
Por questões de segurança, ela preferiu não dizer se está asilada em uma embaixada. Em agosto, em um artigo no “The Wall Street Journal”, Corina Machado afirmou que estava escondida por temer pela própria vida.
Troca de governo
Nicolás Maduro e Edmundo González
Federico PARRA/AFP
No dia 10 de janeiro de 2025, a Venezuela terá uma cerimônia para anunciar quem ficará pelos próximos seis anos no poder. Maduro, que controla a Justiça e o Congresso, se prepara para assumir o terceiro mandato.
Na oposição, ainda há esperanças de que Edmundo González assuma o poder. Em entrevistas recentes, o oposicionista que está exilado na Espanha garante que vai voltar ao país para ser empossado.
Maria Corina Machado também acredita que há possibilidades de que o regime de Maduro termine em janeiro de 2025. Ela argumenta que tem provas de que González recebeu o maior número de votos. Sendo assim, pela Constituição, é ele quem deve governar o país.
“Evidentemente Maduro, até agora, resistiu e tentou aterrorizar um país e nos prender através da repressão, da intimidação. Mas a Constituição é a Constituição, e é isso que tem que acontecer”, disse.
A líder venezuelana disse que a chapa de Edmundo González já conseguiu derrubar outras barreiras que pareciam difíceis de superar. Entre elas, vencer as eleições e conseguir reunir provas disso.
“Eu estou focada em conseguir um mandato para fazer cumprir a Constituição. Quando Maduro vai reconhecer isso? Pode ser antes de 10 de janeiro. Pode ser no dia 10 de janeiro ou até depois do mês de janeiro. Mas Maduro terá de reconhecer a verdade porque nós, venezuelanos, não vamos desistir.”
Transição negociada
Maduro comparece à Suprema Corte venezuelana
Federico PARRA / AFP
Em agosto, a oposição da Venezuela anunciou que ofereceria “garantias, salvo-conduto e incentivos” para que Nicolás Maduro faça uma transição de poder. A ideia seria uma negociação com o atual presidente, que inclusive já recebeu uma oferta de asilo político no exterior.
No mesmo mês, Maduro descartou negociar com a oposição e disse que Corina Machado tinha que se entregar à Justiça para responder “pelos crimes que cometeu”.
Agora, a líder da oposição venezuelana afirma que Maduro deveria aceitar os termos de uma transição negociada “para o seu próprio bem” e evitar um cenário devastador na Venezuela.
“Dissemos que estamos dispostos a dar garantias nesta transição, com base no reconhecimento da soberania popular expressada em 28 de julho. O que nós venezuelanos queremos é o que é bom para o nosso país, o que é bom para os países vizinhos, o que é bom para todas as nações democráticas e também o que é bom para aqueles que hoje apoiam Nicolás Maduro”, afirmou.
A líder da oposição destacou que o apoio internacional para a troca de poder na Venezuela é fundamental para pressionar o regime atual. Segundo ela, Maduro acredita que os crimes cometidos durante seu governo serão esquecidos, mas o mundo não virará a página tão facilmente.
Quando questionada sobre o que pode acontecer caso Maduro continue no poder, Corina Machado disse: “Acredite, será mais difícil para Maduro do que para nós”.
“Ele tornaria realidade o golpe de Estado mais cruel da história deste país e ficará absolutamente isolado e sozinho em condições cada vez mais difíceis ou impossíveis de sustentar. Ele não tem mais nada, ele não tem mais ninguém. Ninguém acredita nele”, afirmou.
Militares insatisfeitos
Maduro fala com seu comando militar em um evento em Caracas no dia 5 de julho.
Leonardo Fernández Viloria/ Reuters
A líder da oposição venezuelana afirmou que o regime de Nicolás Maduro só continua de pé por causa da atuação das Forças Armadas, que têm forte influência chavista.
“Vemos como em todos os cargos governamentais há algumas figuras das Forças Armadas porque Maduro sabe que isso é a única coisa que lhe resta.”
Por outro lado, Corina Machado disse que existe um descontentamento crescente nas bases militares. Nas eleições de 28 de julho, por exemplo, membros das Forças Armadas tiveram papeis decisivos para que a oposição conseguisse reunir as atas das urnas eleitorais, segundo ela.
“Essas pressões dentro das Forças Armadas crescem porque eles entendem que com Maduro não há futuro. Nós estamos oferecendo um governo democrático no qual todos os venezuelanos poderão se encontrar e fortalecer nossas instituições, começando por uma força armada profissional e bem treinada”, concluiu.
Guaidó no passado
O presidente autoproclamado da Venezuela Juan Guaidó fala a jornalistas durante entrevista coletiva em Caracas, na sexta-feira (15)
Federico Parra/AFP
Os Estados Unidos e outros países já reconheceram Edmundo González como presidente eleito. No entanto, essa não é a primeira vez que membros da comunidade internacional tentaram buscar uma alternativa diplomática a Maduro.
Em 2019, o oposicionista Juan Guaidó se autodeclarou presidente da Venezuela. O governo dele foi reconhecido por diversos países, inclusive o Brasil. Ainda assim, o mandato de Guaidó não teve efeito prático e acabou sendo dissolvido pela própria oposição em 2022.
Corina Machado acredita que há diferenças entre 2019 e o que acontece atualmente. A primeira delas é que Edmundo González concorreu nas eleições presidenciais, recebendo a maioria dos votos, conforme dados coletados pela oposição. Já Guaidó, segundo ela, se autoproclamou em meio a um vazio de poder.
Ela também elencou mudanças dentro da própria Venezuela nos últimos cinco anos, afirmando que o regime de Maduro está mais frágil hoje.
“Era um regime tinha recursos econômicos e que os usava para comprar, persuadir, manipular ou enganar. Isso já não é possível. O chavismo colapsou no dia 28 de julho, não tem mais capacidade de controle social para manipular a sociedade. Não tem dinheiro”, afirmou.
“Mas o mais importante é que nunca tivemos um país tão unido. Hoje podemos mobilizar cidadãos em 500 cidades de todo o mundo no mesmo dia. Temos uma liderança legitimada, primeiro através das primárias e depois através das eleições presidenciais. Nunca estivemos tão fortes como hoje.”
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Internacional

O que ofensiva rebelde na Síria significa para o Oriente Médio e por que é cedo para declarar derrota de Bashar al-Assad

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O presidente do país já mostrou que está disposto a tudo para salvar seu regime. Rebeldes, em veículos militares, lançaram uma ofensiva contra o governo da Síria
Reuters
A nova ofensiva da guerra na Síria é a mais recente repercussão da crise que assola o Oriente Médio desde os ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro do ano passado.
Os ataques do Hamas e a reação israelense desestabilizaram a região. E os eventos ocorridos na Síria nos últimos dias são mais uma demonstração de que a guerra que assola o Oriente Médio está se agravando, em vez de diminuir.
Ao longo de uma década de guerra que se iniciou em 2011, o regime do presidente sírio Bashar al-Assad sobreviveu porque ele se mostrou disposto a destruir a Síria para salvar o regime herdado do seu pai.
Para isso, ele confiava em aliados poderosos: a Rússia, o Irã e o Hezbollah, no Líbano. Eles intervieram ao lado de Assad para combater grupos rebeldes, desde os extremistas jihadistas do Estado Islâmico até as milícias apoiadas pelos Estados Unidos e pelas ricas monarquias do Golfo Pérsico.
Agora, o Irã cambaleia frente aos duros golpes impostos por Israel, com o apoio dos Estados Unidos, para garantir sua própria segurança no Oriente Médio. Seu aliado, o Hezbollah, costumava enviar seus melhores homens para lutar ao lado do regime de Assad na Síria, mas está paralisado, também devido aos ataques de Israel.
E a Rússia lançou ataques aéreos nos últimos dias contra a ofensiva dos rebeldes na Síria, mas seu poderio militar está quase totalmente voltado para os combates na Ucrânia.
A guerra na Síria não terminou. Ela deixou de ocupar espaço nas manchetes, devido, em parte, à atual turbulência em diversas partes do Oriente Médio e em outras regiões do planeta – e também porque entrar no país é quase impossível para os jornalistas.
Em alguns lugares, a guerra foi suspensa ou ficou paralisada, mas existem muitas questões não resolvidas na Síria.
O regime de Bashar al-Assad nunca recuperou o poder de controle da Síria que detinha antes de 2011 – o ano dos levantes árabes – embora tenha mantido inúmeros prisioneiros sírios nas prisões do país.
Ainda assim, até poucos dias atrás, o regime de Assad controlava as principais cidades, as regiões rurais próximas e suas principais conexões.
Agora, uma coalizão de grupos rebeldes liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) – que controla a província de Idlib, na fronteira com a Turquia – irrompeu em 27 de novembro. Eles varreram as tropas sírias em poucos dias, em uma série de eventos “surpreendentes”, segundo me disse um experiente diplomata internacional.
Dois dias após o início da ofensiva, o grupo postava fotos de combatentes que haviam tomado a antiga fortaleza de Aleppo. A cidade no norte da Síria era uma base inexpugnável das tropas governamentais entre 2012 e 2015, quando foi dividida entre os rebeldes e as forças do regime.
A atmosfera em Aleppo parece calma após a retirada das tropas do governo. Uma imagem nas redes sociais mostra combatentes rebeldes uniformizados e armados, dispostos em fila para comer frango frito em um restaurante fast food.
O HTS tem suas raízes na al-Qaeda. Mas ele rompeu com o grupo em 2016 e, às vezes, combate seus leais seguidores.
Mas o HTS ainda é considerado um grupo terrorista pelo Conselho de Segurança da ONU, pela União Europeia e por diversos países, como os Estados Unidos, a Turquia e o Reino Unido – além da Síria, que considera todos os seus oponentes como terroristas.
O líder do HTS, Abu Mohammad al-Jawlani, tem uma longa história como líder jihadista no Iraque e na Síria. Mas, nos últimos anos, ele se afastou da ideologia jihadista pura e tenta ampliar o apelo da sua organização.
O grupo também usa esta reformulação para atrair apoio para sua ofensiva, chamada pelo HTS de Operação para Repelir a Agressão. Este nome e seus anúncios oficiais evitam a linguagem jihadista e referências islâmicas.
A linguagem neutra é projetada para distanciar o que está acontecendo agora do passado jihadista do HTS, apresentando a ofensiva atual como um esforço rebelde conjunto contra o regime, segundo Mina al-Lami, especialista em mídia jihadista da BBC Monitoring.
Os sírios costumam ser repelidos pela sua retórica religiosa extremista.
Com a derrota dos grupos jihadistas que dominaram a rebelião após as demonstrações pró-democracia, depois de cerca de um ano de guerra em 2011, muitos sírios ficaram neutros ou se aliaram relutantemente ao regime. Eles temiam a sanguinária ideologia jihadista do Estado Islâmico.
A ofensiva liderada pelo HTS é uma consequência do cenário político dividido do norte da Síria.
Grande parte do nordeste do país é controlada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), um grupo liderado por curdos e apoiado pelos Estados Unidos, que mantêm cerca de 900 tropas na região.
A Turquia detém um papel importante. Ela controla terras na fronteira, onde se encontram suas próprias tropas regulares, ao lado das milícias apoiadas pelo país. E células inativas remanescentes do Estado Islâmico, às vezes, organizam emboscadas mortais nas estradas que atravessam o deserto da Síria.
Os relatos que chegam da Síria dão conta que as forças rebeldes capturaram quantidades significativas de equipamentos militares, incluindo helicópteros. Elas estão pressionando em direção a Hama, a próxima cidade importante no caminho para a capital síria, Damasco.
Sem dúvidas, o regime e seus aliados irão se esforçar para se defender e contra-atacar, especialmente com seu poderio aéreo.
Os rebeldes não detêm força aérea, mas – em outro sinal da revolução bélica gerada pelos veículos aéreos não tripulados – existem informações de que eles usaram um drone para matar um alto funcionário de inteligência do regime.
O recrudescimento dos combates na Síria já é motivo de alerta internacional.
O enviado das Nações Unidas para a Síria, o diplomata norueguês Geir Pedersen, publicou uma declaração afirmando que “os últimos desenvolvimentos representam graves riscos para os civis e trazem sérias consequências para a segurança regional e internacional… Nenhum partido ou grupo existente na Síria pode resolver o conflito sírio pela via militar.”
Pedersen destaca que houve “um fracasso coletivo na criação de um verdadeiro processo político” para implementar a resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em 2015. A resolução estabeleceu um caminho para a paz, baseado no princípio de que “o povo sírio irá decidir o futuro da Síria”.
O objetivo era construir um futuro definido por eleições livres e uma nova constituição. Mas isso significaria que Assad e sua família iriam entregar o país que eles trataram por anos como seu feudo pessoal. E mais de meio milhão de mortos confirmam sua determinação para não deixar que isso aconteça.
É cedo demais para declarar o fim do regime de Assad. Ele conta com um real centro de apoio.
Alguns sírios consideram que ele é a opção menos ruim – melhor que os jihadistas que dominaram a rebelião.
Mas, se outros grupos anti-Assad, dentre os muitos existentes, se levantarem, o seu regime irá novamente correr um risco mortal.

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Internacional

A morte de empresária em barco com destino a ilha francesa: ‘Corpo jogado no oceano’

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Contrabandistas de imigrantes foram contratados para levar a jovem, proprietária de um salão de beleza, para a ilha francesa de Mayotte. Fathi Hussein morreu tentando ir para ilha francesa
Família Hussein via BBC
A família da empresária Fathi Hussein, de 26 anos, está em luto na capital da Somália, Mogadíscio, após a jovem ter morrido no mar.
O caso ocorreu após contrabandistas de imigrantes terem sido contratados para levar a jovem, proprietária de um salão de beleza, para a ilha francesa de Mayotte.
“Os sobreviventes nos disseram que ela morreu de fome”, disse à BBC, por telefone, Samira, meia-irmã de Fathi Hussein.
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A família soube por eles que Fathi morreu em um de dois pequenos barcos, à deriva no Oceano Índico durante cerca de 14 dias, depois de ter sido abandonado pelos contrabandistas.
“As pessoas comiam peixe cru e bebiam água do mar, o que ela recusava. Eles [os sobreviventes] disseram que ela começou a ter alucinações antes de morrer. E depois disso jogaram o corpo dela ao oceano”, disse Samira à BBC.
A família de Fathi soube da morte dela através de colegas somalis que foram resgatados por pescadores na costa de Madagáscar há cerca de uma semana.
A Organização Internacional de Migração (IMO) disse que mais de 70 pessoas estavam nos dois barcos quando eles viraram. Foram contabilizadas 24 mortes, enquanto 48 sobreviveram.
Acredita-se que centenas de migrantes morrem todos os anos tentando chegar à pequena ilha francesa, localizada a cerca de 300 km a noroeste de Madagáscar.
No primeiro dia de novembro, Fathi voou de Mogadíscio para a cidade costeira queniana de Mombaça, e alguns dias depois partiu de barco para Maiote – uma viagem perigosa de mais de 1.100 km através do Oceano Índico.
Samira diz que a família está perplexa com a decisão de Fathi, pois ela tinha um negócio de sucesso em Mogadíscio e vivia no bairro de classe média de Yaqshid.
Fathi escondeu o seu plano da família, partilhando o seu segredo apenas com a irmã mais nova. Ela havia confidenciado que pagou aos contrabandistas o dinheiro que recebia com o seu salão de beleza, segundo Samira.
“Ela odiava o oceano. Não sei por que e como ela tomou essa decisão. Gostaria de poder dar um abraço nela.”
A Somália é frequentemente mencionada no topo da lista dos piores países do mundo para ser mulher.
Os sobreviventes contaram à família de Fathi que ela e todos os outros passageiros estavam num grande barco quando partiram de Mombaça.
Durante a viagem, no entanto, os contrabandistas disseram que o barco teve problemas mecânicos e teria de voltar.
Assim, antes de regressarem ao Quênia, os contrabandistas colocaram todos os migrantes em dois pequenos barcos, garantindo-lhes: “Chegarão a Mayotte em três horas”.
Mas, diz Samira, “transformou-se em 14 dias” e a situação levou à morte da irmã e de outras pessoas.
Alguns dos sobreviventes suspeitam que os contrabandistas os deixaram deliberadamente soltos no mar, uma vez que já tinham sido pagos e que, na realidade, não tinham intenção de levá-los para Maiote, diz Samira.
Funcionário regional da IMO, Frantz Celestin disse à BBC que é cada vez mais comum que os migrantes arrisquem as suas vidas tentando chegar à ilha francesa.
“Recentemente, 25 pessoas morreram durante a mesma viagem, geralmente em trânsito através das Comores e de Madagáscar. De modo geral, este ano foi o mais mortal para os migrantes”, diz ele.
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A BBC conversou com cinco migrantes somalis que tentaram chegar a Mayotte. Eles disseram que existem duas rotas principais da Somália para a ilha.
Alguns viajam de barco a partir de Mombaça através das ilhas Comores, que estão muito mais próximas de Mayotte, enquanto aqueles com mais dinheiro voam para a Etiópia e depois para Madagáscar, porque os titulares de passaportes somalis qualificam-se para um visto na chegada.
De lá, eles pegam um pequeno barco para Mayotte, na esperança de que isso abra a porta para a obtenção de um passaporte francês e o consequente acesso à Europa.
Um dos poucos que sobreviveram a esta rota perigosa é Khadar Mohamed.
Ele chegou a Mayotte há 11 meses, mas lembra-se claramente da terrível provação que passou para chegar à ilha vindo de Madagascar.
“Quando cheguei a Madagáscar, fui levado para a casa do proprietário do barco. Ficamos lá durante 14 dias”, diz ele.
O grupo de pessoas que esperavam cresceu para 70. Eles foram então colocados em um barco e levados por um rio até o mar aberto.
Khadar diz que deixou a Somália por causa da ameaça representada pela Al-Shabab, uma afiliada da Al-Qaeda que luta para derrubar o governo.
“Deixei meu país para minha segurança. Eu era proprietário de uma empresa e não podia fazer o meu trabalho por causa da Al-Shabab”, diz ele.
As famílias de algumas das vítimas dizem que os contrabandistas recebem cerca de US$ 6 mil (R$ 35 mil) para viajar de Mombaça para Mayotte, com metade do pagamento adiantado.
A BBC viu contas no TikTok anunciando viagens semelhantes para Mayotte e para outras partes da Europa.
Os anúncios afirmam que os operadores podem levar as pessoas para a ilha utilizando grandes barcos turísticos, mas as famílias das vítimas dizem que os contrabandistas utilizam barcos de pesca muito menores, chamados “kwassa”.
O governo francês não comentou a recente tragédia.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Somália, Ahmed Moalim Fiqi, afirma que o seu governo está concentrando esforços para contactar os sobreviventes e levá-los de volta para casa.
A família de Fathi afirma ter denunciado às autoridades um contrabandista com quem suspeita que a sua filha teve contato em Mogadíscio e ele foi preso, mas depois ele foi libertado sob fiança.
Samira diz que a dor de não saber como a irmã se sentiu nos momentos finais ficará com ela para sempre.
“Gostaria que ela pudesse falar comigo e me contar sobre sua decisão. Ela poderia ter se despedido de mim… agora, não sei como processar sua morte”, diz.
Reportagem adicional de Marina Daras.
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Postado em: 06:04

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