Por 10 anos, vítima foi dopada pelo então marido, que convidava estranhos para estuprar a mulher. Gisèle renunciou ao anonimato e exigiu tornar o processo público, causando comoção em todo o mundo. Caso Gisèle Pelicot: francês que dopava a esposa para estupros é condenado
O homem acusado de drogar a ex-mulher para estuprá-la na França foi condenado à prisão pela Justiça francesa nesta quinta-feira (19). Por 10 anos, Dominique Pelicot dopou Gisèle Pelicot e convidou estranhos para ter relações sexuais com ela sem consentimento. Durante todo esse tempo, a vítima não sabia que estava sendo estuprada.
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Gisèle só descobriu que era vítima de estupros em 2020, quando Dominique foi preso por importunação sexual contra outras mulheres. À época, a polícia apreendeu um computador usado por ele e encontrou fotos da vítima sendo estuprada por vários homens.
Ao todo, segundo as investigações, Gisèle foi violentada por mais de 70 homens. Destes, 50 também se tornaram réus junto de Dominique e também foram condenados nesta quinta. Os outros abusadores ainda não foram identificados ou localizados pelas autoridades.
O caso ganhou repercussão em setembro, quando começou o julgamento. Na ocasião, Gisèle abriu mão do direito ao anonimato e resolveu tornar todo o processo público. A vítima disse que tomou essa decisão para impedir que casos semelhantes aconteçam com outras mulheres.
Nesta reportagem você vai ver:
Quantas vezes a vítima foi estuprada?
Como a vítima descobriu que era violentada?
Como os crimes aconteciam?
Por que a vítima resolveu tornar o caso público?
Como foi o julgamento?
Quantas vezes a vítima foi estuprada?
Gisèle Pelicot, vítima de estupro na França
Christophe SIMON / AFP
As autoridades estimam que os abusos contra Gisèle começaram em 2011. Segundo as investigações, a vítima foi estuprada pelo menos 92 vezes por 72 homens diferentes. Os investigados têm idades entre 21 e 68 anos.
Apesar disso, a acusação formal da Justiça envolveu apenas 50 réus, além de Dominique Pelicot. Os outros 22 abusadores não foram encontrados ou identificados pelos investigadores.
Quando o julgamento começou, 18 réus estavam presos, incluindo Dominique. À época, 35 dos investigados se declararam inocentes, enquanto 13 afirmaram ser culpados. Os demais não compareceram ao tribunal.
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Como a vítima descobriu que era violentada?
Gisèle Pelicot compareceu a quase todas as audiências do julgamento iniciado em setembro
Reuter
Gisèle descobriu que era frequentemente estuprada por acaso, em 2020. Naquele ano, Dominique foi flagrado tentando filmar por debaixo das saias de três mulheres dentro de um supermercado.
Após a prisão, Gisèle foi chamada para prestar depoimento na delegacia. Os agentes, então, mostraram fotos e vídeos que revelavam ela sendo estuprada por estranhos dentro da própria casa. A vítima estava visivelmente inconsciente nos registros.
A polícia descobriu essas imagens após apreender um computador de Dominique. Os investigadores também encontraram conversas do acusado com outros homens, nas quais ele os convidava para terem relações sexuais com Gisèle.
“Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro. Dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício”, disse a vítima durante uma entrevista em setembro.
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Como os crimes aconteciam?
Francesa estuprada e dopada pelo pai na infância fala sobre abusos após caso Pélicot
Durante o julgamento, Dominique Pelicot admitiu que dava para Gisèle doses de tranquilizantes sem que ela soubesse. Para isso, ele misturava os medicamentos na comida e na bebida. Depois, em um site de encontros da França, ele convidava outros homens para estuprá-la.
De acordo com as investigações, Dominique pedia para que os homens não acordassem Gisèle. Ele também orientava para que os abusadores evitassem usar perfume ou tabaco, de modo a não deixar cheiros.
Além disso, os estupradores tiravam a roupa na cozinha, para evitar que as peças fossem esquecidas no quarto do casal.
O processo judicial aponta ainda que Dominique participava dos estupros e filmava os crimes. Ele não pedia dinheiro em troca.
Alguns dos acusados afirmaram que não sabiam que a vítima estava drogada e alegaram que pensavam estar participando de uma fantasia sexual do casal. Por outro lado, Dominique disse que todos sabiam que a mulher estava inconsciente.
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Por que a vítima resolveu tornar o caso público?
Gisèle Pélicot deixando tribunal nesta quarta (18)
REUTERS/Antony Paone
Gisèle Pélicot falou pela primeira vez sobre o caso nos primeiros dias do julgamento, ainda em setembro. À época, ela criticou o fato de nenhum dos abusadores ter denunciado o que estava acontecendo.
“Estes senhores se permitiram entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Me estupraram com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida”, disse.
Diante da gravidade do crime, Gisèle tinha a opção de se manter no anonimato. No entanto, resolveu mostrar o próprio rosto e exigir uma autorização de acesso público ao julgamento. Segundo os advogados dela, a vítima fez isso para que nenhum outro caso semelhante acontecesse.
A coragem de Gisèle fez com que ela se tornasse um ícone feminista, inspirando outras mulheres a denunciarem agressores. Ela também foi eleita uma das mulheres mais influentes do mundo em 2025 pela rede britânica BBC.
Em outubro, a vítima comentou que gostaria de ser um exemplo de coragem para outras mulheres que foram estupradas.
“Não quero que [as vítimas] sintam mais vergonha, e sim os agressores”, afirmou.
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Como foi o julgamento?
Dominique Pelicot compareceu ao tribunal nesta quarta, visivelmente fraco
Benoit PEYRUCQ / AFP
O julgamento de Dominique Pelicot começou no dia 2 de setembro, em Avignon, no sul da França. Durante as audiências, Caroline, filha dele, também descobriu que o pai guardava fotos dela nua.
Segundo a imprensa local, ao saber das imagens, Caroline abandonou a sala de audiência tremendo e chorando. Ela foi amparada pelos dois irmãos e só retornou 20 minutos depois.
As fotos em questão foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta com o nome “Em volta da minha filha, nua”.
Dominique negou que tenha drogado e estuprado a filha. No entanto, Caroline disse à imprensa francesa que duvidava do pai.
Outro caso que chamou a atenção durante as audiências foi o relato de Jean-Pierre Marechal, um amigo de Dominique. Ele disse que copiou o método usado pelo acusado para estuprar a esposa.
Durante o depoimento, Marechal afirmou que Dominique também estuprou a esposa dele. Ele disse estar arrependido do crime. O amigo do acusado também se tornou réu no caso, apesar de não ter abusado de Gisèle.
Na última audiência do julgamento, na segunda-feira (16), Dominique pediu perdão à família e disse que admirava a coragem que Gisèle teve para tornar o caso público.
“Todos aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados, assim como eu”, disse.
Os demais réus também tiveram a oportunidade de falar no último dia de audiências. Alguns voltaram a pedir desculpas para Gisèle, enquanto outros negaram os crimes.
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