Internacional
Autópsia aponta que Yahya Sinwar foi morto com tiro na cabeça, diz jornal
Número 1 do Hamas e idealizador dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, Sinwar teve sua morte anunciada pelas Forças de Defesa de Israel nesta quinta (17). Ele foi surpreendido durante patrulha de soldados israelenses em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Yahya Sinwar em mesquita em Rafah em 24 de fevereiro de 2017.
Said Khatib/AFP
Uma autópsia feita por Israel no corpo de Yahya Sinwar, comandante do Hamas e mentor dos atentados terroristas de 7 de outubro de 2023, apontou que ele foi morto com um tiro na cabeça, segundo o jornal americano “The New York Times”.
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Israel anunciou que matou Sinwar na quinta-feira (17). Ele era o número 1 do Hamas há dois meses e foi assassinado dentro da Faixa de Gaza durante um confronto com soldados israelenses.
Sinwar foi avistado junto com outros dois soldados do Hamas por soldados israelenses que patrulhavam pelo bairro de Tel al-Sultan, em Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, que imediatamente iniciaram um confronto com eles, segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Avichay Adraee. A autópsia mostrou também que o então comandante do Hamas havia sido atingido no braço durante esse tiroteio com os combatentes da FDI.
Estilhaços, possivelmente disparados de um pequeno míssil ou projétil de tanque, atingiram o braço direito de Sinwar e o feriram, segundo o diretor do Instituto Nacional de Medicina Legal de Israel, Chen Kugel, que supervisionou a autópsia e revelou suas descobertas ao “The New York Times” nesta sexta. Um tanque do Exército de Israel atirou no edifício em que Sinwar estava escondido antes dele ser morto com o tiro de sniper. O terrorista havia sido avistado pelos israelenses no local com o auxílio de um drone.
Kugel também disse ao jornal americano que Sinwar amarrou um cabo elétrico ao redor de seu braço ferido, para tentar improvisar um torniquete e estancar o sangramento do ferimento no braço, mas que não foi efetivo por conta da gravidade do ferimento no braço. O terrorista parecia prostrado em uma poltrona nas imagens de drone feitas por Israel antes dele ser morto. (Veja no vídeo abaixo)
Ainda não se sabe alguns elementos sobre o tiro fatal, como por exemplo o momento em que foi disparado, qual arma foi utilizada e quem realizou o disparo. Segundo Avichay Adraee, as de drone feitas de Sinwar mostram seus momentos finais, indicando que o tiro fatal pode ter sido realizado minutos depois da gravação das imagens.
LEIA TAMBÉM:
SANDRA COHEN: Morte de Sinwar equivale a troféu para Netanyahu e não o fim da guerra
Morte de Yahya Sinwar, número 1 do Hamas: especialistas apontam potenciais substitutos
REPERCUSSÃO: Veja a reação de líderes internacionais à morte de Yahya Sinwar
Vídeo mostra Yahya Sinwar momentos antes da morte
A morte
Sinwar é considerado o principal mentor dos ataques de 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel e matou cerca de 1.200 pessoas, além de sequestrar outras 230. Israel jurou Sinwar de morte no dia seguinte.
De acordo com as autoridades, Sinwar morreu durante um confronto com soldados israelenses dentro de uma residência em Rafah, no sul de Gaza. A região foi onde Sinwar nasceu e cresceu.
Em pronunciamento, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou Sinwar de “destruir suas vidas” e disse que a morte do terrorista “não significa que a guerra acabou”.
A caçada por Sinwar durou mais de um ano e motivou “dezenas de ações realizadas pelas Forças Armadas e pelo Shin Bet [o serviço secreto israelense]”, segundo o porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari.
Nascido e crescido na Faixa de Gaza, Sinwar era o líder do Hamas que mais conhecia o território, o que dificultou as operações de Israel. A estratégia, segundo o porta-voz, foi cercá-lo a partir de ataques ao redor de áreas onde o serviço de inteligência identificava que ele poderia estar.
Quem foi Yahya Sinwar
Depois de seis anos sendo o chefe do Hamas na Faixa de Gaza e o número 2 na hierarquia do grupo, Sinwar foi nomeado em agosto o comandante máximo do grupo terrorista, após a morte de Haniyeh.
Desde que virou comandante o paradeiro de Sinwar era secreto. No entanto, o perfil do terrorista deu pistas a Israel, já que ele tinha uma relação de proximidade com moradores do território.
Eleito por meio de votações secretas, Yahia Sinwar governou a Faixa de Gaza por seis anos. Antes disso, ele passou 23 anos em prisões israelenses, condenado a quatro penas de prisão perpétua pela morte de dois soldados e de quatro palestinos ligados a Israel.
O terrorista foi libertado em 2011, com mais 1.026 prisioneiros palestinos. Em troca, Israel recebeu de volta o soldado Gilad Shalit, que havia sido sequestrado cinco anos antes pelo Hamas.
Sinwar falava e escrevia hebraico fluentemente — ele disse que, enquanto esteve preso, dedicou-se a estudar o inimigo.
Em 2018, durante as negociações para um cessar-fogo com Israel, ele redigiu, à mão e em hebraico, uma mensagem ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com apenas duas palavras: “risco calculado”.
VÍDEOS: mais assistidos do g1
Said Khatib/AFP
Uma autópsia feita por Israel no corpo de Yahya Sinwar, comandante do Hamas e mentor dos atentados terroristas de 7 de outubro de 2023, apontou que ele foi morto com um tiro na cabeça, segundo o jornal americano “The New York Times”.
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Israel anunciou que matou Sinwar na quinta-feira (17). Ele era o número 1 do Hamas há dois meses e foi assassinado dentro da Faixa de Gaza durante um confronto com soldados israelenses.
Sinwar foi avistado junto com outros dois soldados do Hamas por soldados israelenses que patrulhavam pelo bairro de Tel al-Sultan, em Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, que imediatamente iniciaram um confronto com eles, segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Avichay Adraee. A autópsia mostrou também que o então comandante do Hamas havia sido atingido no braço durante esse tiroteio com os combatentes da FDI.
Estilhaços, possivelmente disparados de um pequeno míssil ou projétil de tanque, atingiram o braço direito de Sinwar e o feriram, segundo o diretor do Instituto Nacional de Medicina Legal de Israel, Chen Kugel, que supervisionou a autópsia e revelou suas descobertas ao “The New York Times” nesta sexta. Um tanque do Exército de Israel atirou no edifício em que Sinwar estava escondido antes dele ser morto com o tiro de sniper. O terrorista havia sido avistado pelos israelenses no local com o auxílio de um drone.
Kugel também disse ao jornal americano que Sinwar amarrou um cabo elétrico ao redor de seu braço ferido, para tentar improvisar um torniquete e estancar o sangramento do ferimento no braço, mas que não foi efetivo por conta da gravidade do ferimento no braço. O terrorista parecia prostrado em uma poltrona nas imagens de drone feitas por Israel antes dele ser morto. (Veja no vídeo abaixo)
Ainda não se sabe alguns elementos sobre o tiro fatal, como por exemplo o momento em que foi disparado, qual arma foi utilizada e quem realizou o disparo. Segundo Avichay Adraee, as de drone feitas de Sinwar mostram seus momentos finais, indicando que o tiro fatal pode ter sido realizado minutos depois da gravação das imagens.
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A morte
Sinwar é considerado o principal mentor dos ataques de 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel e matou cerca de 1.200 pessoas, além de sequestrar outras 230. Israel jurou Sinwar de morte no dia seguinte.
De acordo com as autoridades, Sinwar morreu durante um confronto com soldados israelenses dentro de uma residência em Rafah, no sul de Gaza. A região foi onde Sinwar nasceu e cresceu.
Em pronunciamento, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou Sinwar de “destruir suas vidas” e disse que a morte do terrorista “não significa que a guerra acabou”.
A caçada por Sinwar durou mais de um ano e motivou “dezenas de ações realizadas pelas Forças Armadas e pelo Shin Bet [o serviço secreto israelense]”, segundo o porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari.
Nascido e crescido na Faixa de Gaza, Sinwar era o líder do Hamas que mais conhecia o território, o que dificultou as operações de Israel. A estratégia, segundo o porta-voz, foi cercá-lo a partir de ataques ao redor de áreas onde o serviço de inteligência identificava que ele poderia estar.
Quem foi Yahya Sinwar
Depois de seis anos sendo o chefe do Hamas na Faixa de Gaza e o número 2 na hierarquia do grupo, Sinwar foi nomeado em agosto o comandante máximo do grupo terrorista, após a morte de Haniyeh.
Desde que virou comandante o paradeiro de Sinwar era secreto. No entanto, o perfil do terrorista deu pistas a Israel, já que ele tinha uma relação de proximidade com moradores do território.
Eleito por meio de votações secretas, Yahia Sinwar governou a Faixa de Gaza por seis anos. Antes disso, ele passou 23 anos em prisões israelenses, condenado a quatro penas de prisão perpétua pela morte de dois soldados e de quatro palestinos ligados a Israel.
O terrorista foi libertado em 2011, com mais 1.026 prisioneiros palestinos. Em troca, Israel recebeu de volta o soldado Gilad Shalit, que havia sido sequestrado cinco anos antes pelo Hamas.
Sinwar falava e escrevia hebraico fluentemente — ele disse que, enquanto esteve preso, dedicou-se a estudar o inimigo.
Em 2018, durante as negociações para um cessar-fogo com Israel, ele redigiu, à mão e em hebraico, uma mensagem ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com apenas duas palavras: “risco calculado”.
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Postado em: 17:00
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Internacional
Como os astronautas da Nasa votam a bordo da Estação Espacial Internacional
Votação é feita eletronicamente e o voto é criptografado antes de ser enviado à Terra. Os astronautas da NASA Loral O’Hara e Jasmin Moghbeli votam como residentes do Texas na Estação Espacial Internacional
NASA
👨🚀 A mais de 332 km de distância da Terra, os astronautas americanos da Nasa podem participar das eleições dos Estados Unidos diretamente da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês).
Graças a uma lei aprovada no estado do Texas em 1997, criou-se um procedimento técnico (entenda mais abaixo) que possibilita astronautas a votarem do espaço. De acordo com a NASA, há 27 anos, David Wolf foi o primeiro americano a votar em órbita a bordo da Estação Espacial Mir.
Assim como moradores de alguns estados podem votar pela internet ou via correio de forma antecipada, os astronautas também podem preencher um formulário de Cartão Postal Federal para solicitar voto ausente.
No dia 5 de março, a astronauta Jasmin Moghbeli postou uma foto em suas redes sociais compartilhando o momento do voto diretamente da ISS (imagem mais acima). Os astronautas em órbita mostram uma espécie de cabine com um papel escrito “cabine de votação ISS”. Na legenda da postagem, Moghbeli escreveu: “Estar no espaço não impediu que Loral O’Hara e eu votássemos. Vá votar hoje”.
A Nasa afirma que a participação dos astronautas no pleito a partir do espaço “não é apenas um fato histórico, mas também inspira muitas pessoas a se envolverem no processo eleitoral, independentemente das circunstâncias”.
Como é feita a votação em órbita
A votação é feita através do Programa de Comunicação e Navegação Espacial da NASA, e a agência garante que o processo de votação do ISS é segura e bem estruturada.
Como astronautas da NASA votam diretamente do espaço
Dhara Assis e Bianca Batista/ g1
🛰️ Etapas da votação:
Uma cédula-teste é enviada por e-mail para cada astronauta com uma senha exclusiva que permite o acesso ao sistema de votação. Depois de verificar se tudo funciona corretamente, eles recebem o documento eletrônico oficial.
A cédula é um arquivo criptografado que só pode ser aberto com a senha. Após a votação, o documento é enviado de volta à Terra por meio de um sistema de comunicação que usa satélites para transmitir dados da ISS para antenas no solo.
Assim que o voto é transmitido, ele é enviado ao Controle da Missão em Houston, no Texas, e, em seguida, ao secretário do condado apropriado para processamento.
Segundo a Nasa, a rede liga missões em um raio de 1,9 milhões de quilômetros da Terra com serviços de comunicações e navegação – incluindo a estação espacial.
A agência espacial diz que astronautas renunciam de muitos confortos ao embarcarem em viagens ao espaço. “Embora estejam longe de casa, as redes da NASA os conectam aos seus amigos e familiares e lhes dão a oportunidade de participar na democracia e na sociedade enquanto estão em órbita”.
NASA
👨🚀 A mais de 332 km de distância da Terra, os astronautas americanos da Nasa podem participar das eleições dos Estados Unidos diretamente da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês).
Graças a uma lei aprovada no estado do Texas em 1997, criou-se um procedimento técnico (entenda mais abaixo) que possibilita astronautas a votarem do espaço. De acordo com a NASA, há 27 anos, David Wolf foi o primeiro americano a votar em órbita a bordo da Estação Espacial Mir.
Assim como moradores de alguns estados podem votar pela internet ou via correio de forma antecipada, os astronautas também podem preencher um formulário de Cartão Postal Federal para solicitar voto ausente.
No dia 5 de março, a astronauta Jasmin Moghbeli postou uma foto em suas redes sociais compartilhando o momento do voto diretamente da ISS (imagem mais acima). Os astronautas em órbita mostram uma espécie de cabine com um papel escrito “cabine de votação ISS”. Na legenda da postagem, Moghbeli escreveu: “Estar no espaço não impediu que Loral O’Hara e eu votássemos. Vá votar hoje”.
A Nasa afirma que a participação dos astronautas no pleito a partir do espaço “não é apenas um fato histórico, mas também inspira muitas pessoas a se envolverem no processo eleitoral, independentemente das circunstâncias”.
Como é feita a votação em órbita
A votação é feita através do Programa de Comunicação e Navegação Espacial da NASA, e a agência garante que o processo de votação do ISS é segura e bem estruturada.
Como astronautas da NASA votam diretamente do espaço
Dhara Assis e Bianca Batista/ g1
🛰️ Etapas da votação:
Uma cédula-teste é enviada por e-mail para cada astronauta com uma senha exclusiva que permite o acesso ao sistema de votação. Depois de verificar se tudo funciona corretamente, eles recebem o documento eletrônico oficial.
A cédula é um arquivo criptografado que só pode ser aberto com a senha. Após a votação, o documento é enviado de volta à Terra por meio de um sistema de comunicação que usa satélites para transmitir dados da ISS para antenas no solo.
Assim que o voto é transmitido, ele é enviado ao Controle da Missão em Houston, no Texas, e, em seguida, ao secretário do condado apropriado para processamento.
Segundo a Nasa, a rede liga missões em um raio de 1,9 milhões de quilômetros da Terra com serviços de comunicações e navegação – incluindo a estação espacial.
A agência espacial diz que astronautas renunciam de muitos confortos ao embarcarem em viagens ao espaço. “Embora estejam longe de casa, as redes da NASA os conectam aos seus amigos e familiares e lhes dão a oportunidade de participar na democracia e na sociedade enquanto estão em órbita”.
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Postado em: 03:00
Internacional
Conheça a história de um homem que teve o sonho americano interrompido por causa do racismo
‘O Sonho Americano’: Jornal Nacional desembarca em Detroit, no Michigan, um dos berços da cultura e da música negra nos Estados Unidos. O Sonho Americano: JN conta histórias de racismo e resistência da população negra nos EUA
A viagem especial do Jornal Nacional pelos Estados Unidos desembarca em Detroit, no Michigan – um dos berços da cultura e da música negra no país. Uma cidade marcada pelo racismo, um tema que mobiliza os eleitores americanos. O Felipe Santana vai contar essa história nesta sexta-feira (1º).
O discurso mais famoso de Martin Luther King foi na capital, Washington, em que ele diz: “Eu tenho um sonho”. O sonho dele era que uma pessoa não fosse julgada pela cor da sua pele. Mas a primeira vez que ele proferiu esse discurso foi em Detroit, o grande centro do movimento pelos direitos civis.
Na época em que ele fez o discurso, um hotel poderia simplesmente não receber uma pessoa negra. Um restaurante poderia fechar as portas para uma pessoa negra. Um negro não podia entrar no mesmo banheiro que entrava um branco.
Depois de 246 de escravidão nos Estados Unidos, foram mais 100 anos de segregação racial legitimada pelo Estado, através de leis. Como as fotos dessa época são em preto e branco, parece que faz muito tempo. Mas não faz. Só acabou um ano depois do discurso de Martin Luther King, em 1964. Muita gente que conversou com a equipe do Jornal Nacional viveu essa época. E para muita gente, a segregação nos Estados Unidos nunca terminou. Como mostra o episódio desta sexta-feira (1º) da série “O Sonho Americano”.
O que você consegue fazer em 46 anos de vida? Foi o tempo que Richard Phillips ficou preso.
“De repente, você não vê mais seus filhos e sua mulher por quase meio século. É muito tempo”, diz.
Richard Phillips ficou preso injustamente por 46 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
Ele foi preso por causa de um Mustang laranja. A história do crime a gente vai conhecer neste episódio da série “O Sonho Americano”.
Detroit, Michigan. Richard Phillips voltou com o Jornal Nacional ao bairro em que viveu quando criança. A casa não está mais ali.
“Minha mãe alugava um quarto em uma pensão. Mas a proprietária deixava meu irmão e eu dormirmos no sótão. Ela ganhava US$ 8 por dia. Era difícil sustentar dois filhos assim”, conta Richard.
Richard Phillips largou a escola antes de completar o ensino médio. Mas, enquanto estudava, descobriu que tinha um talento.
“Eu conseguia digitar 80 palavras por minuto”, lembra.
Foi assim que ele conseguiu o emprego na grande indústria de Detroit daquele tempo. Virou auxiliar administrativo em uma montadora de carros.
“Eles pagavam bem. Eu nunca pensei que eu, um menino do gueto, poderia viver com o dinheiro do meu trabalho”, diz.
Richard Phillips ficou preso injustamente por 46 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
Richard Phillips casou, teve dois filhos e, aos 22 anos, gostava de festa. Era um momento em que Detroit fervia, alimentada com o dinheiro das montadoras de carro e o calor da luta pelos direitos civis.
O prédio que foi demolido em 2023 era um lugar histórico para Detroit, principalmente para a cultura negra americana. No andar de baixo, tinha um restaurante, um bar, uma pista de dança e um palco para shows. No andar de cima, quartos que você alugava por hora – um motel. Foi lá, no 20 Grand Motel, que os Estados Unidos viram nascer um dos maiores movimentos da música do século XX: Motown.
Temptations, Marvin Gaye, Stevie Wonder… Todas essas estrelas começaram tocando lá. Esses artistas depois ganharam a TV e viraram ícones do movimento civil contra o racismo. Mas, para Richard Phillips, a festa terminou ali, no 20 Grand Motel.
“Eu estava com um amigo que tinha roubado uma loja em um Mustang laranja. A polícia apareceu e me levou preso com ele”, conta.
Na delegacia, o dono da loja tinha que reconhecer o ladrão.
“Ele disse: ‘É o número quatro’. Adivinha quem era o número quatro? Eu. E eu nunca tinha visto aquele cara na minha vida”, afirma.
Richard sabia que não poderia entregar o amigo ou morreria na hora em que saísse dali. Mas nunca deixou de dizer que era inocente. Quando já cumpria a pena, o mesmo amigo botou a culpa nele por um assassinato que tinha cometido. Richard pegou prisão perpétua.
Na cadeia, trabalhava fazendo placas de carros para o Estado. Ganhava US$ 4 por dia, o suficiente apenas para comprar seus produtos de higiene.
Nos Estados Unidos, os presos trabalham, e muitas cadeias são privadas. Elas funcionam como negócios, em que os donos vendem o trabalho dos presos, pagando muito pouco. Isso foi legalizado pela 13ª Emenda da Constituição americana. A mesma que proíbe a escravidão. É porque ela diz assim:
“A escravidão e o trabalho involuntário estão proibidos, a não ser pelo pagamento de um crime”.
A probabilidade de um afro-americano ser preso é cinco vezes maior do que a de um branco nos Estados Unidos. E para oito a cada dez negros, o sonho americano simplesmente não existe. Porque, para eles, o sonho de igualdade – como dizia Martin Luther King – não se mostra no dia a dia. Por isso, também, a população negra é a que menos sai de casa para votar, já que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório. Apenas 42% votaram nas últimas eleições para deputado e senador.
Nas últimas eleições presidenciais, em 2020, 92% dos eleitores negros votaram no candidato democrata Joe Biden. Foram essenciais para a vitória dele em estados importantes – como Geórgia, Pensilvânia e no Michigan.
Com uma candidata negra, o Partido Democrata pretende energizar esses eleitores. Muitos dizem que vão sair e votar por causa dela. Mas ela não tem tanto apoio quanto o primeiro presidente negro da história, Barack Obama. Porque alguns eleitores pensam que, por ser filha de imigrantes, não teve a experiência negra americana como tiveram George Floyd ou Richard Phillips – que viu 46 anos de vida passarem atrás das grades.
Na cadeia, Richard Phillips descobriu um novo talento: ele pintou tudo o que sentia lá dentro
Jornal Nacional/ Reprodução
Só que na cadeia, ele descobriu um novo talento: ele pintou tudo o que sentia lá dentro. Até que, em 2017, um grupo de defensores públicos resolveu investigar o caso dele e comprovaram o que ele vinha dizendo por 46 anos: que Richard Phillips não matou ninguém; que era inocente.
“Preferiria morrer na prisão a confessar um crime que não cometi”, afirma.
Richard Phillips ganhou uma indenização milionária do Estado e hoje vive da arte. Os 46 anos de vida não voltarão, mas Richard não se tornou amargo.
“Eu tento não viver no passado”, diz.
Ele se junta ao rol dos artistas negros americanos que, apesar de viverem diariamente o racismo, há décadas repetem a mensagem de esperança e de fé no futuro.
O SONHO AMERICANO
Eleições nos EUA: eleitores contam como a inflação torna o sonho americano cada vez mais distante
‘Cheeseheads’: Como o queijo virou símbolo de Wisconsin e o que isso revela sobre a economia atual dos EUA
‘O Sonho Americano’: série especial do JN investiga o que motiva os eleitores nos EUA
Conheça histórias de ativistas a favor e contra o aborto, um dos temas mais sensíveis da campanha presidencial americana
A viagem especial do Jornal Nacional pelos Estados Unidos desembarca em Detroit, no Michigan – um dos berços da cultura e da música negra no país. Uma cidade marcada pelo racismo, um tema que mobiliza os eleitores americanos. O Felipe Santana vai contar essa história nesta sexta-feira (1º).
O discurso mais famoso de Martin Luther King foi na capital, Washington, em que ele diz: “Eu tenho um sonho”. O sonho dele era que uma pessoa não fosse julgada pela cor da sua pele. Mas a primeira vez que ele proferiu esse discurso foi em Detroit, o grande centro do movimento pelos direitos civis.
Na época em que ele fez o discurso, um hotel poderia simplesmente não receber uma pessoa negra. Um restaurante poderia fechar as portas para uma pessoa negra. Um negro não podia entrar no mesmo banheiro que entrava um branco.
Depois de 246 de escravidão nos Estados Unidos, foram mais 100 anos de segregação racial legitimada pelo Estado, através de leis. Como as fotos dessa época são em preto e branco, parece que faz muito tempo. Mas não faz. Só acabou um ano depois do discurso de Martin Luther King, em 1964. Muita gente que conversou com a equipe do Jornal Nacional viveu essa época. E para muita gente, a segregação nos Estados Unidos nunca terminou. Como mostra o episódio desta sexta-feira (1º) da série “O Sonho Americano”.
O que você consegue fazer em 46 anos de vida? Foi o tempo que Richard Phillips ficou preso.
“De repente, você não vê mais seus filhos e sua mulher por quase meio século. É muito tempo”, diz.
Richard Phillips ficou preso injustamente por 46 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
Ele foi preso por causa de um Mustang laranja. A história do crime a gente vai conhecer neste episódio da série “O Sonho Americano”.
Detroit, Michigan. Richard Phillips voltou com o Jornal Nacional ao bairro em que viveu quando criança. A casa não está mais ali.
“Minha mãe alugava um quarto em uma pensão. Mas a proprietária deixava meu irmão e eu dormirmos no sótão. Ela ganhava US$ 8 por dia. Era difícil sustentar dois filhos assim”, conta Richard.
Richard Phillips largou a escola antes de completar o ensino médio. Mas, enquanto estudava, descobriu que tinha um talento.
“Eu conseguia digitar 80 palavras por minuto”, lembra.
Foi assim que ele conseguiu o emprego na grande indústria de Detroit daquele tempo. Virou auxiliar administrativo em uma montadora de carros.
“Eles pagavam bem. Eu nunca pensei que eu, um menino do gueto, poderia viver com o dinheiro do meu trabalho”, diz.
Richard Phillips ficou preso injustamente por 46 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
Richard Phillips casou, teve dois filhos e, aos 22 anos, gostava de festa. Era um momento em que Detroit fervia, alimentada com o dinheiro das montadoras de carro e o calor da luta pelos direitos civis.
O prédio que foi demolido em 2023 era um lugar histórico para Detroit, principalmente para a cultura negra americana. No andar de baixo, tinha um restaurante, um bar, uma pista de dança e um palco para shows. No andar de cima, quartos que você alugava por hora – um motel. Foi lá, no 20 Grand Motel, que os Estados Unidos viram nascer um dos maiores movimentos da música do século XX: Motown.
Temptations, Marvin Gaye, Stevie Wonder… Todas essas estrelas começaram tocando lá. Esses artistas depois ganharam a TV e viraram ícones do movimento civil contra o racismo. Mas, para Richard Phillips, a festa terminou ali, no 20 Grand Motel.
“Eu estava com um amigo que tinha roubado uma loja em um Mustang laranja. A polícia apareceu e me levou preso com ele”, conta.
Na delegacia, o dono da loja tinha que reconhecer o ladrão.
“Ele disse: ‘É o número quatro’. Adivinha quem era o número quatro? Eu. E eu nunca tinha visto aquele cara na minha vida”, afirma.
Richard sabia que não poderia entregar o amigo ou morreria na hora em que saísse dali. Mas nunca deixou de dizer que era inocente. Quando já cumpria a pena, o mesmo amigo botou a culpa nele por um assassinato que tinha cometido. Richard pegou prisão perpétua.
Na cadeia, trabalhava fazendo placas de carros para o Estado. Ganhava US$ 4 por dia, o suficiente apenas para comprar seus produtos de higiene.
Nos Estados Unidos, os presos trabalham, e muitas cadeias são privadas. Elas funcionam como negócios, em que os donos vendem o trabalho dos presos, pagando muito pouco. Isso foi legalizado pela 13ª Emenda da Constituição americana. A mesma que proíbe a escravidão. É porque ela diz assim:
“A escravidão e o trabalho involuntário estão proibidos, a não ser pelo pagamento de um crime”.
A probabilidade de um afro-americano ser preso é cinco vezes maior do que a de um branco nos Estados Unidos. E para oito a cada dez negros, o sonho americano simplesmente não existe. Porque, para eles, o sonho de igualdade – como dizia Martin Luther King – não se mostra no dia a dia. Por isso, também, a população negra é a que menos sai de casa para votar, já que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório. Apenas 42% votaram nas últimas eleições para deputado e senador.
Nas últimas eleições presidenciais, em 2020, 92% dos eleitores negros votaram no candidato democrata Joe Biden. Foram essenciais para a vitória dele em estados importantes – como Geórgia, Pensilvânia e no Michigan.
Com uma candidata negra, o Partido Democrata pretende energizar esses eleitores. Muitos dizem que vão sair e votar por causa dela. Mas ela não tem tanto apoio quanto o primeiro presidente negro da história, Barack Obama. Porque alguns eleitores pensam que, por ser filha de imigrantes, não teve a experiência negra americana como tiveram George Floyd ou Richard Phillips – que viu 46 anos de vida passarem atrás das grades.
Na cadeia, Richard Phillips descobriu um novo talento: ele pintou tudo o que sentia lá dentro
Jornal Nacional/ Reprodução
Só que na cadeia, ele descobriu um novo talento: ele pintou tudo o que sentia lá dentro. Até que, em 2017, um grupo de defensores públicos resolveu investigar o caso dele e comprovaram o que ele vinha dizendo por 46 anos: que Richard Phillips não matou ninguém; que era inocente.
“Preferiria morrer na prisão a confessar um crime que não cometi”, afirma.
Richard Phillips ganhou uma indenização milionária do Estado e hoje vive da arte. Os 46 anos de vida não voltarão, mas Richard não se tornou amargo.
“Eu tento não viver no passado”, diz.
Ele se junta ao rol dos artistas negros americanos que, apesar de viverem diariamente o racismo, há décadas repetem a mensagem de esperança e de fé no futuro.
O SONHO AMERICANO
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Postado em: 22:01
Internacional
‘Preferiria morrer a confessar um crime que não cometi’: a história do homem negro que passou 46 anos preso injustamente
Relato de Richard Phillips mostra mais uma pessoa afetada pelo falho sistema prisional americano e pela escravidão justificada pela 13ª emenda. Aos 22 anos, o americano Richard Phillips era um típico rapaz que queria construir sua vida nos Estados Unidos. Natural de Detroit, no Michigan, ele trabalhava como auxiliar administrativo em uma montadora de automóveis e tinha dois filhos.
Esta reportagem faz parte da série “O Sonho Americano”, do Jornal Nacional. A equipe da TV Globo percorreu estados-chave nas eleições presidenciais dos EUA para descobrir o que está impactando os eleitores neste ano. O quinto capítulo é sobre racismo.
Episódio 1, Democracia: Crianças arrecadam US$ 1 milhão para construir parquinho e incluir alunos com deficiência em escola dos EUA
Episódio 2, Economia: ‘Cheeseheads’: Como o queijo virou símbolo de Wisconsin e o que isso revela sobre a economia americana
Episódio 3, Inflação: Das casas ao ‘tailgate’: como a inflação tem distanciado os jovens do sonho americano nos Estados Unidos
Episódio 4, Aborto: ‘Janes de Chicago’: conheça a rede secreta de mulheres que ajudou a mudar a história do aborto nos EUA
Episódio 5: ‘Preferiria morrer a confessar um crime que não cometi’: a história do homem negro que passou 46 anos preso injustamente
De origem humilde, Richard passou a infância dormindo no sótão de uma pensão junto com seu irmão. Sua mãe ganhava US$ 8 por dia, mas fazia o que podia para cuidar das crianças. Como acontece com muitos garotos de bairros periféricos norte-americanos que não possuem tantas opções, Richard largou a escola antes de completar o ensino médio e se preparou para as sobras que conseguisse agarrar da vida.
Mas logo descobriu um talento único: “Eu conseguia digitar 80 palavras por minuto”, o que lhe garantiu o emprego como auxiliar administrativo da montadora de carros. Pouco tempo depois, Richard se casou, teve seus dois filhos e viu o sonho americano a um palmo de distância.
Com essa promessa de futuro, Richard aproveitava as festas que adorava. Detroit tinha o 20 Grand Motel, onde os Estados Unidos assistiram o surgimento de um dos maiores movimentos musicais da história: o Motown.
Grandes astros da música começaram tocando no 20 Grand Motel. Entre eles, Temptations, Stevie Wonder e Marvin Gaye, artistas que viraram ícones do movimento civil contra o racismo. Mas para Richard, o local seria o ponto de partida da maior injustiça de sua vida.
“Eu estava com um amigo que tinha roubado uma loja num Mustang Laranja. A polícia apareceu e me levou preso com ele”, conta.
Na delegacia, conta Richard, o dono da loja precisava reconhecer o ladrão: “Ele disse: ‘é o número 4.’ Adivinha quem era o número 4? Eu! E eu nunca tinha visto aquele cara na minha vida.”
A situação, que já parecia desesperadora o suficiente, só piorou. Richard não podia entregar o amigo, pessoas que faziam isso morriam assim que saíam da cadeia. E o tal amigo aproveitou a oportunidade para se livrar da culpa de um assassinato e jogá-lo nas costas de Richard enquanto ele cumpria pena. A sentença foi de prisão perpétua.
Escravidão contemporânea
Na cadeia, Richard Phillips trabalhava fazendo placas de carros para o estado e ganhava US$ 4 por dia, apenas o suficiente para que conseguisse comprar seus produtos de higiene.
Essa situação é comum nos Estados Unidos, onde muitas cadeias são privadas, funcionando como negócios em que os donos vendem o trabalho dos presos e pagam pouco. Isso tem base na Constituição americana, a partir da 13ª emenda, a mesma que, ironicamente, proíbe a escravidão.
‘A escravidão e o trabalho involuntário estão proibidos, a não ser por pagamentos de um crime’, diz a emenda americana.
Mas isso levanta o questionamento: o que de fato mudou com a abolição da escravidão? Afro-americanos têm cinco vezes mais chances de serem presos do que brancos nos Estados Unidos. A cada dez negros, para oito deles o sonho americano simplesmente não existe. Para eles, o sonho de igualdade, tão sonhado por Martin Luther King, não passa de um discurso do passado que nunca tomou forma no presente.
Ausência nas votações
A falta de realidade do sonho americano é também um desincentivo para votar e isso é visto na prática. A população negra é a que menos participa das eleições nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório.
Na votação de 2020, apenas 42% dos negros votaram, 92% deles em Joe Biden, essenciais para a vitória do atual presidente americano em estados muito importantes, como Georgia, Pensilvânia e Michigan.
Neste ano, muitos dizem que vão apoiar a atual vice e candidata democrata Kamala Harris, mas já é perceptível que ela não possui tanto apoio quanto tinha Barack Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos.
Isso porque alguns eleitores pensam que, por ser filha de imigrantes, Kamala não sentiu na pele a experiência negra americana, vivida por pessoas como George Floyd ou, é claro, Richard Phillips, que passou 46 anos de sua vida atrás das grades por conta da incriminação injusta que sofreu aos 22 anos.
Recomeço depois de quase 5 décadas
Em 2017, um grupo de defensores públicos resolveu investigar o caso de Richard e conseguiram comprovar tudo o que ele vinha dizendo durante os últimos 46 anos, provando assim a sua completa inocência.
“O mais próximo que cheguei de receber uma proposta de acordo foi quando meu advogado me procurou e disse que talvez pudesse fazer um acordo. Naquela ocasião, eu lhe disse o que vou repetir agora… Prefiro morrer na prisão a admitir algo que não fiz”, comenta.
Richard Phillips ganhou uma indenização milionária do Estado e hoje vive de uma paixão que descobriu atrás das grades, a pintura, uma forma que encontrou de expressar tudo o que sentia enquanto estava preso.
Os 46 anos não voltarão, mas Richard mantém o bom espírito: “Eu tento não viver no passado.”
Ele se junta a vários outros artistas negros americanos, que, apesar de conviverem diariamente com um racismo estrutural e profundo, há décadas repetem uma mensagem de esperança e fé em um futuro melhor.
Esta reportagem faz parte da série “O Sonho Americano”, do Jornal Nacional. A equipe da TV Globo percorreu estados-chave nas eleições presidenciais dos EUA para descobrir o que está impactando os eleitores neste ano. O quinto capítulo é sobre racismo.
Episódio 1, Democracia: Crianças arrecadam US$ 1 milhão para construir parquinho e incluir alunos com deficiência em escola dos EUA
Episódio 2, Economia: ‘Cheeseheads’: Como o queijo virou símbolo de Wisconsin e o que isso revela sobre a economia americana
Episódio 3, Inflação: Das casas ao ‘tailgate’: como a inflação tem distanciado os jovens do sonho americano nos Estados Unidos
Episódio 4, Aborto: ‘Janes de Chicago’: conheça a rede secreta de mulheres que ajudou a mudar a história do aborto nos EUA
Episódio 5: ‘Preferiria morrer a confessar um crime que não cometi’: a história do homem negro que passou 46 anos preso injustamente
De origem humilde, Richard passou a infância dormindo no sótão de uma pensão junto com seu irmão. Sua mãe ganhava US$ 8 por dia, mas fazia o que podia para cuidar das crianças. Como acontece com muitos garotos de bairros periféricos norte-americanos que não possuem tantas opções, Richard largou a escola antes de completar o ensino médio e se preparou para as sobras que conseguisse agarrar da vida.
Mas logo descobriu um talento único: “Eu conseguia digitar 80 palavras por minuto”, o que lhe garantiu o emprego como auxiliar administrativo da montadora de carros. Pouco tempo depois, Richard se casou, teve seus dois filhos e viu o sonho americano a um palmo de distância.
Com essa promessa de futuro, Richard aproveitava as festas que adorava. Detroit tinha o 20 Grand Motel, onde os Estados Unidos assistiram o surgimento de um dos maiores movimentos musicais da história: o Motown.
Grandes astros da música começaram tocando no 20 Grand Motel. Entre eles, Temptations, Stevie Wonder e Marvin Gaye, artistas que viraram ícones do movimento civil contra o racismo. Mas para Richard, o local seria o ponto de partida da maior injustiça de sua vida.
“Eu estava com um amigo que tinha roubado uma loja num Mustang Laranja. A polícia apareceu e me levou preso com ele”, conta.
Na delegacia, conta Richard, o dono da loja precisava reconhecer o ladrão: “Ele disse: ‘é o número 4.’ Adivinha quem era o número 4? Eu! E eu nunca tinha visto aquele cara na minha vida.”
A situação, que já parecia desesperadora o suficiente, só piorou. Richard não podia entregar o amigo, pessoas que faziam isso morriam assim que saíam da cadeia. E o tal amigo aproveitou a oportunidade para se livrar da culpa de um assassinato e jogá-lo nas costas de Richard enquanto ele cumpria pena. A sentença foi de prisão perpétua.
Escravidão contemporânea
Na cadeia, Richard Phillips trabalhava fazendo placas de carros para o estado e ganhava US$ 4 por dia, apenas o suficiente para que conseguisse comprar seus produtos de higiene.
Essa situação é comum nos Estados Unidos, onde muitas cadeias são privadas, funcionando como negócios em que os donos vendem o trabalho dos presos e pagam pouco. Isso tem base na Constituição americana, a partir da 13ª emenda, a mesma que, ironicamente, proíbe a escravidão.
‘A escravidão e o trabalho involuntário estão proibidos, a não ser por pagamentos de um crime’, diz a emenda americana.
Mas isso levanta o questionamento: o que de fato mudou com a abolição da escravidão? Afro-americanos têm cinco vezes mais chances de serem presos do que brancos nos Estados Unidos. A cada dez negros, para oito deles o sonho americano simplesmente não existe. Para eles, o sonho de igualdade, tão sonhado por Martin Luther King, não passa de um discurso do passado que nunca tomou forma no presente.
Ausência nas votações
A falta de realidade do sonho americano é também um desincentivo para votar e isso é visto na prática. A população negra é a que menos participa das eleições nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório.
Na votação de 2020, apenas 42% dos negros votaram, 92% deles em Joe Biden, essenciais para a vitória do atual presidente americano em estados muito importantes, como Georgia, Pensilvânia e Michigan.
Neste ano, muitos dizem que vão apoiar a atual vice e candidata democrata Kamala Harris, mas já é perceptível que ela não possui tanto apoio quanto tinha Barack Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos.
Isso porque alguns eleitores pensam que, por ser filha de imigrantes, Kamala não sentiu na pele a experiência negra americana, vivida por pessoas como George Floyd ou, é claro, Richard Phillips, que passou 46 anos de sua vida atrás das grades por conta da incriminação injusta que sofreu aos 22 anos.
Recomeço depois de quase 5 décadas
Em 2017, um grupo de defensores públicos resolveu investigar o caso de Richard e conseguiram comprovar tudo o que ele vinha dizendo durante os últimos 46 anos, provando assim a sua completa inocência.
“O mais próximo que cheguei de receber uma proposta de acordo foi quando meu advogado me procurou e disse que talvez pudesse fazer um acordo. Naquela ocasião, eu lhe disse o que vou repetir agora… Prefiro morrer na prisão a admitir algo que não fiz”, comenta.
Richard Phillips ganhou uma indenização milionária do Estado e hoje vive de uma paixão que descobriu atrás das grades, a pintura, uma forma que encontrou de expressar tudo o que sentia enquanto estava preso.
Os 46 anos não voltarão, mas Richard mantém o bom espírito: “Eu tento não viver no passado.”
Ele se junta a vários outros artistas negros americanos, que, apesar de conviverem diariamente com um racismo estrutural e profundo, há décadas repetem uma mensagem de esperança e fé em um futuro melhor.
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Postado em: 21:04
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