Por mais que a sucessão de fatos do jogo tenha desafiado tal conclusão por alguns instantes, deu o mais provável em Buenos Aires. O Botafogo confirmou o favoritismo ao bater o Atlético Mineiro por 3×1 no Monumental. Mostrou-se mais organizado e merecedor da inédita conquista. Mesmo com inferioridade numérica em todo o jogo, soube superar um Galo caótico e de soluções tardias.
É difícil indicar qual é o maior destaque do Botafogo na inesquecível tarde de sábado na capital argentina. Pode ser Artur Jorge, que teve frieza ao perder um volante e redefiniu rapidamente a estratégia.O poder desequilibrante de Luiz Henrique também precisa ser exaltado. Assim como a retenção de bola de Almada, a luta de Igor Jesus, e o imparável artilheiro Junior Santos.
O mais prudente, no entanto, é valorizar a construção coletiva deste Glorioso. Essa é a melhor explicação para a linda história já construída, mas que pode ser ainda mais incrementada com o título brasileiro nos próximos dias.
Escalações
As duas equipes entraram em campo sem maiores novidades. Tanto Gabriel Milito quanto Artur Jorge repetiram as bases que já vinham colocando em campo. Bastos foi mesmo a ausência no Botafogo. Adryelson foi o substituto natural na zaga carioca.
Como Atlético Mineiro e Botafogo iniciaram a decisão da Libertadores 2024 — Foto: Rodrigo Coutinho
O jogo
Antes mesmo do primeiro minuto a partida já havia ganho um componente inesperado. Gregore acertou uma solada na cabeça de Fausto Vera em duelo no meio-campo e foi expulso diretamente. A solução inicial de Artur Jorge foi recuar Marlon Freitas e montar uma linha de cinco na defesa quando o Galo se aproximava da área. Queria preencher ao máximo os espaços mais perto da sua meta.
Funcionou! Obviamente o Atlético tinha a bola e se instalava na intermediária contrária. Mas gerava poucos movimentos para levar perigo ao gol do Glorioso. Basicamente não conseguia entrar na área. Trocava passes lateralmente com lentidão. Tinha Hulk, Paulinho e Deyverson ”espetados” em cima da linha de defesa do Botafogo. Poucos apoios aos volantes pelo meio.
O pobre repertório dos mineiros consistia em passar a bola de pé em pé até Arana ou Scarpa receberam pelos lados. Lyanco e Junior Alonso fizeram poucas ultrapassagens nesses momentos. O cenário perfeito para o organizado Botafogo neutralizar.
Além do recuo de Marlon, Artur Jorge pediu um cuidado especial de Luiz Henrique com Guilherme Arana. Muitas vezes o alvinegro carioca montava uma ”linha de seis” com o recuo do camisa 7 pelo setor direito de defesa. Savarino e Almada cuidavam dos pouco criativos volantes atleticanos. E Igor Jesus os auxiliava constantemente.
Como o Botafogo se montou depois da expulsão de Gregore — Foto: Reprodução de TV
Além dos cuidados na parte defensiva, o maior mérito do Botafogo esteve em não abdicar de ser agressivo. Continuou fazendo breves movimentos de subida de marcação e tentava reter a bola no campo de ataque dentro do possível. Fazia o primeiro passe longo para Igor Jesus escorar e buscar a aproximação de um dos companheiros. A partir daí se reunia para trocar passes curtos.
Exatamente desta forma construiu o seu primeiro gol. Almada se aproveitou da passividade da defesa atleticana e iniciou a jogada que terminou com o chute de Luiz Henrique para vencer Everson. Marlon Freitas também participou do lance. Era nitidamente um confronto de um time em inferioridade numérica, mas seguro do que fazer, diante de outro em péssimo momento tático e técnico.
Com a confiança ainda mais abalada, o Galo viu um de seus principais jogadores errar feio. Arana tentou proteger para Everson uma bola lançada pelo Botafogo, um lance que parecia inofensivo, mas foi antecipado por Luiz Henrique e o camisa 7 do Glorioso acabou derrubado pelo arqueiro. Pênalti convertido por Alex Telles no canto esquerdo de Everson aos 43 minutos.
Para se ter ideia da falta de efetividade do Atlético no 1º tempo, o time terminou a etapa com apenas uma finalização a mais em relação ao Botafogo. Levou perigo em apenas duas delas – chutes de Hulk de fora da área. Milito agiu no intervalo. Sacou Lyanco, Fausto Vera e Gustavo Scarpa. Colocou Mariano, Bernard e Vargas.
Como as equipes voltaram para o 2º tempo — Foto: Rodrigo Coutinho
Hulk passou a jogar na ponta-direita. Vargas foi a dupla de área com Deyverson. Paulinho fez companhia a Bernard como uma dupla de meias dentro da intermediária do Botafogo. A resposta foi imediatada. Não só pelo gol de cabeça de Vargas logo no primeiro minuto do 2º tempo, mas pela quantidade de jogadas que Hulk começou a fazer pela direita.
O próprio camisa 7 chegou perto de empatar na sequência. Deyverson também. Finalizou de peixinho para fora e teve um gol certo impedido por Adryelson dentro da área. Mariano entrou muito bem. Foi o ”homem-livre” de mais qualidade vindo de trás, algo que Lyanco não conseguiu fazer. Bernard deu nova dinâmica ao setor também.
A reação de Artur Jorge foi sacar Savarino e Alex Telles para as entradas de Danilo Barbosa e Marçal. Queria ter um lateral mais forte defensivamente no setor de Hulk e um volante de maior estatura para fazer a função que era de Marlon Freitas junto aos zagueiros. O camisa 17 voltou a jogar de volante a partir deste momento.
Vargas comemora gol em Atlético-MG x Botafogo — Foto: REUTERS/Agustin Marcarian
A pressão atleticana continuava, agora com mais organização e agressividade, e o Botafogo tentava lutar contra o desgaste para se defender com segurança. Junior Santos e Matheus Martins foram a campo depois dos 30 minutos nas vagas de Luiz Henrique e Almada. Alan Kardec no lugar de Deyverson foi a cartada de Milito para a reta final do jogo.
A bola do empate, porém, esteve duas vezes nos pés de Vargas. Ele perdeu duas grandes oportunidades depois dos 40′. Não aproveitou um passe genial de Mariano e nem a vacilada gigante de Adryelson e Barboza no fim. O desfecho triunfal não poderia estar em outros pés. Artilheiro da competição, Junior Santos ”arrastou” a zaga mineira e deu números finais ao placar nos acréscimos.